terça-feira, 30 de novembro de 2010

existir para lá do NADA

estava a lembrar-me das mulheres que são vítimas de violência doméstica e pensei: há mulheres que existem pela negativa!
quero explicar-me. vamos ver se consigo...
porque razão essas mulheres apesar dos maus-tratos subsistem com os seus companheiros, maridos, namorados, amantes?
bom! às vezes, muitas vezes, mais que as desejáveis por questões de ordem económica.
mas nem sempre! e não só!
então porquê?
por falta de auto-estima, por insegurança, por deficit de amor próprio? será?
parece-me bem que sim.
parece-me que certas mulheres passam a ter existência a partir da agressividade. é como se me disessem "ao menos assim sei que existo para ele, logo existo para mim". entendem? faço-me entender?
padrões de comportamentos adquiridos, histórias de vidas complicadas, infâncias difíceis, não sei!
é como se todas disessem "ao menos bate-me, já é qualquer coisa, já sou qualquer coisa".
e assim se permite a agressão. primeiro que tudo de si para si próprias, só depois para os outros.
mas pode alguém permitir-se isso?
sim! se fora essa a maniera de ser gostada. desafectadamente.
e eis que encontro muitos casos destes. ainda que não se cinjam a quatro paredes. auto-violência e violência consentida. humilhação. indiferença. hostilidade. desrespeito.
há mulheres que existem pela negativa.
entendem?
tem medo que além daquilo que conhecem esteja o NADA.
e o nada o que é?
talvez a morte, talvez o vazio. não sabem porque ainda não o experimentaram.
mas eu dir-lhes-ia talvez a felicidade.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Chiado e Cuba

"Bonjour. Estou no Chiado (esta Paris em Lisboa), espero um amigo, digo não aos pedintes (este ano são mais!) e não me sai da cabeça a reportagem que li ontem. Tema: Cuba!"

Parece que uma coisa nada tem que ver com a outra. Mas tem!
Tem tudo a ver!

Elemento comum: a miséria!

E eis que feita fina na Bénard digo para as francesas da frente "la câmera n'esta pas bien ici", pensando que alguém pudesse passar e puxá-la, zás.

Fiquei impressionada com a opulência característica do Chiado, limpo, arranjado, iluminado, cheio de gente, de frenesim, de chapéus de chuva, de cartões de crédito, de operações multibanco e de pobres de mão estendida.

Na reportagem que lera a realidade tinha outro rosto, outros contornos, outras cores e, apesar de não existirem mãos estendidas, havia também fome, necessidade de pedir para colmatar a fome.
Fugi e fui-me embora dali.

domingo, 28 de novembro de 2010

mães

há mães que o são por inerência de funções.
ninguém lhes ensinou nada, ninguém lhes contou nada, ninguém lhes leu nada. as mães bafejadas pela inerência de funçoes (re)nascem ensinadas no momento em que parem os seus filhos.
sabem discernir o seu choro, não se afligem, não choram elas próprias. adivinham-lhe o desconforto da fralda, da fome, da sede sem telefonar para o ti-nó-ni. acalmam os seus filhos com um embalo, um colo, um encosto, um carinho, um afago. dão-lhes banho como quem regressa ao ventre. mais tarde cantam-lhe canções de embalar, sentam-se no chão quando começam a gatinhar, moem os legumes para começarem a mastigar, medem-lhes a febre se se estão a constipar, dormem no seu leito se a doença ameaçar.
as mães por inerência de funções muitas vezes não dormem para vigiar. também não gritam para não assustar. também não batem para se salvaguardar. também não vacilam para não insegurar.
as mães por inerência de funções são maduras e crescidas.
são meigas, carinhosas, atenciosas. param para escutar. dão resposta. fazem perguntas. têm curiosidade, tacto, amabilidade.
e nisto como noutra coisa qualquer só consegue sê-lo quem já é muito mulher.

tanto, tanto também não

AINDA QUE MAL COMPARADO...

gosta dela, mas nao lhe dá a mão em público;
gosta dela, mas não sai com ela de fim-de-semana;
gosta dela, mas não a apresenta à família;

é boa trabalhadora, mas não lhe renova o contrato;
fez bom trabalho, mas não lhe renova o contrato;
faz falta, mas não lhe renova o contrato.

com uns como com outros devíamos sempre puder por BAIXA.
e dizer-lhes...aí ele é isso?
gostas, mas tanto tanto também não!?
aí ele é isso?
então toma lá: BAIXA.

sábado, 27 de novembro de 2010

A.V.C. vulgo trombose ou ...

lá em Baleizão quando, por algum azar da vida, alguém era surpreendido por um acidente vascular cerebral, as pessoas comentavam entre si "fulano, deu-lhe uma coisinha".
é verdade, às vezes, não fico com o bracinho apanhado e a boquinha ao lado, mas devia ficar como castigo quando me dão "coisinhas".
era bem feito para não ser parvinha!
dá-se-me cá dentro cada acidente vascular coraçal que só visto!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

baleizão

tenho o sonho de viver numa casa ladeada de seixos, seixos roubados ao Guadiana há muitos, muitos anos atrás. redondinhos, castanhos, cremes, cinzentos. à soleira dessa porta vinham desaguar as correntes do rio para molharmos os pés e de tão fortes que elas eram obrigavam-me a ficar quase eternamente em casa.
essa casa estava na rua principal da aldeia que era o afluente do rio e que desembocava no ponto de encontro de Manuel da Fonseca: o largo.
rodeada também por searas de vento a casa do meu sonho era grande, tinha paredes de tijolo de burro, tectos de madeira, cheirava a pó e a cal e a troncos queimados e a caldos e sopas.
esta casa só poderia existir porque existem aldeias com fortes tradições, raízes, costumes, hábitos, estórias inverosímeis e do demo. esta casa ladeada de pedaços de rio só podia existir ali.
e era nesta casa que eu por força da corrente que é a vida me encontrava de novo no meu habitat natural. nessa casa só era permitida a entrada de seres humanos mesmo humanos, outros não vivos mas imemoráveis, outros ainda imateriais, também efémeros, também etéreos.
e eu nessa casa tinha vários cantos: o canto nono de Camões, o canto dos cisnes, o cante alentejano, o canto celestial, o canto encantado e o canto onde reunia todos os desejos passíveis de se tornarem realidade que o mesmo será chamar-lhe sonhos capazes de rimarem com prazer.
na minha casa ou a partir dela ecoariam muitas músicas e abrir-se-iam as janelas e as cortinas para ela trespassar qual arma apontada em riste para a rua que é o rio, o afluente, o largo, a fonte, a sociedade recreativa, o café, o largo outra vez.
e ainda nessa casa construir-se-ia uma máquina de produzir papel com letras já impressas lá ao fundo na cavalariça depois do poço e da casinha das fezes no quintal. de dentro do meu canto, de dentro dessa casa qual torre de babel, eu tinha que escutar muitas pessoas em surdina, em confissão, em pranto, em brado, em desabafo, gravar tudo no meu gravador e na máquina de filmar do meu avó montada com o tripé que comprei no verão com o subsídio de férias na worten, e depois materializar, dar forma, consistência, ar de coisa, coisa em ares de, palavra atrás de palavra e enviar para a máquina de produzir papel com as letras já impressas.
de vez em quando os duendes deixar-me-iam espreitar a rua quando o rio tivesse caminhado para os lados de lá, eu podia passar as mãos nos seixos, acariciá-los e ver como são macios ainda que expostos todo o dia e toda a noite às intempéries, ver como eles são bonitos quando guardam mesmo que seja só uma casa quais seios de mãe quando guarda seu filhinho. de vez em quando as bruxas convocavam-me para convenções nocturnas debaixo do chupão e a costureirinha chamava-me ao barranco, de vez em quando soava lá longe o enterro do bacalhau ou os tiros do Mais Lindo, de vez em quando entranhavam-se-me nas roupas e no estomâgo as sopas de tomate com os poejos ou os caldos de peixe com a hortelã da ribeira e apertavam-me as goelas e de vez em quando eu ficava sem conseguir falar, dizer, perguntar e sem conseguir fazer mais nada e... de vez em quando tudo me possuía e eu escrevia, escrevia, escrevia...

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

pronto...coitados!

é muito chato a gente perceber ao fim destes anos todos, é muito chato perceber que há pessoas, pessoas próximas, pessoas que a gente até conhece, pessoas que coitadas, não foram ao infantário. pessoas a quem foi vetado esse acesso por circunstâncias várias da vida ou porque ficaram com uma tia velha ou com a avó ou até mesmo na rua.
é muito chato porque a gente percebe que a geração dos nossos pais não é propriamente das mais informadas e instruídas e que, portanto, a questão da educação era delegada nos infantários garantes de fazer cumprir essa tarefa tão fundamental ao crescimento dos meninos e meninas.
no infantário, de facto, aprendem-se questões elementares como as da higiene pessoal, mas não só! 1) a noção de que existem regras de socialização e 2) a noção de que há limites para cumprir, são, no fundo, as grandes mais-valias do infantário, de maneiras que ter passado por lá teria sido importante para muitos de nós.
a brincar aprende-se a partilhar alegrias e derrotas, a festejar e a resistir à frustração, a elogiar, a conter a agressão, enfim.
não tenhamos nunca dúvidas sobre a importância da educação para a infância porque ela é, de facto, muito salutar e eu diria mesmo imprescindível.
agora pronto! já se sabe! é muito chato, muito chato a gente chegar a esta idade e perceber que certas pessoas, enfim, coitaditos, não tiveram acesso a isso. a gente depois percebe claro! são adultos, enfim, coitaditos. às vezes nem bom-dia dizem, quanto mais um obrigado ou um se faz favor.
a educação é gratuita. está na constituição. não há direito. coitados. não havia necessidade.
é que depois vai-se a ver e pronto nem um obrigado, nem… pronto é que aprende-se no infantário...

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

GREVE PARCIAL

portugal é piquinito, piquinito, piquinito, piquinito, piquinito, pi, pi, pi.

o país é encolhidinho, fechadinho, paradinho, acéfalozinho, neutrozinho.

na escola da Santa Casa da Misericódia de Faro onde trabalham várias centenas de pessoas a minha irmã foi a única que fez greve. ameaçaram descontar-lhe os 3 dias a que tem direito por assiduidade, depois desceram apenas para um e a seguir disseram que lhe marcariam falta. as colegas não se indignaram, não se revoltaram, não se solidarizaram.


portugal é piquinito, piquinito, piquinito, piquinito, piquinito, pi, pi, pi.

o país é encolhidinho, fechadinho, paradinho, acéfalozinho, neutrozinho.

no meu local de trabalho fui também a única, mas aí não admira: somos só três! um é o patrão e deve ter ficado muito contente com o corte que o ministério da cultura fez dos 23% nos apoios às artes, a outra é a serva da gleba que quer é manter o posto de trabalho seja a que preço for.
enviei vários mail's de apelo à greve e à participação no "ajuntamento" popular no Jardim, em Faro.
recebi subscrições do documento, mas apenas duas presenças. outros houve que me devolveram os mail's com justificações do género "se eu fizer greve prejudico a minha empresa, logo prejudico-me a mim, portanto não farei".

o país é aquilo tudo que já acima se disse mas é muito mais do que isso: é um país de medrosos e de medricas!!


as pessoas têm MEDO. parece que viveram todos no tempo do fascismo e não é verdade! a minha geração não viveu! aliás, se tivesse vivido teria ainda mais uma razão para não se agachar.
é isso! a palavra é agachar e - o meu pai sempre me disse - a gente nunca se agacha muito se não vêem-nos as cuecas!


...se bem que...enfim...de certa forma eu compreendo, eu tolero, eu dou-lhes razão: é que somos todos tão mal pagos que é preciso ser-se muito corajoso para prescindir do dinheiro que nos sacam do ordenado. é só pensando nisto que fico consolada.


mas ainda assim...

terça-feira, 23 de novembro de 2010

a polítca, apolitica

todas as quartas-feiras faço a revolução!
todas as quartas pr'ái das 21h às 24h faço a revolução e a seguir vou para o Mactostas comer tostas (está bom de ver!) ou esperar que a padaria abra para comer croissants com chocolate!
todas as quartas-feiras e não só!
isso seria demasiado redutor.
penso, aliás, que desde há alguns anos a esta parte, se quisermos situar-nos melhor, desde pr'ái os meus 20 anos, que vou fazendo umas revoluçõezinhas.
muitos começam nessas lides bem bem antes, mas não acredito - sinceramente - que saibam ao que vão com 13, 14 e 15 anos. não lhes chamaria politizados, antes instrumentalizados, mas enfim...conheço alguns que se orgulham de erguer bandeiras, pintar graffittis, berrar nas ruas e distribuirem folhetos sem saberem ainda o que era o marxismo.
nunca fui instruída nesse sentido, porém a política nunca esteve ausente lá de casa. não a política no sentido partidarizado do termo, mas sim a política dos países, dos governos, dos presidentes da república, das causas, das medidas. estava presente nos telejornais, nos jornais, nas jornadas de luta, nas tomadas de posições, na transmissão dos valores como a verdade, a justiça, a igualdade, a defesa dos direitos fundamentais, a obrigação do cumprimento dos deveres.
por essas e por outras fui criando a minha própria consciência política. um tanto ao quanto tardia comentava o meu pai com um amigo, mas pudera ele dessertou com 17 anos e viveu durante o fascismo e - efectivamente - mudam-se os tempos, mudam-se as necessidades.
o que na realidade me fez despertar para os problemas do domínio social, o que me fez ver de forma mais ampla, o que me obrigou a olhar para os lados, a sentir os outros e os seus problemas na sua real dimensão, foi o facto de ter começado a trabalhar. o trabalho é, sem dúvida, a grande mudança interior que ocorre dentro de nós (depois das mudanças hormonais da adolescência eh, eh). trabalhar dignifica-nos, eleva-nos, altera-nos, conscencializa-nos, transforma-nos, metamorfoseia-nos.
daí que eu diga que foi à partir dessa altura que começei a fazer as minhas revoluçõezinhas: dizer que não à 1.ª entidade patronal que te enquadra um ano a recibos verdes, outro a contrato e a seguir te propõe que voltes aos recibos verdes; recusar-me na 2.ª entidade patronal a escrever sobre determinados assuntos; não dizer nada à 3.ª, mas "meter" a 4.ª em tribunal por falta de pagamento de salários e de pagamento da segurança social; antecipar-me e sair da 5.ª por razões de avaliação de uma gestão danosa e politcamente incorrecta; sair sorrateiramente da 6.ª por já não ter mais trabalho para mim e... vamos ver nesta 7.ª fazer o quê face a dois anos de recibos verdes e um de contrato com não renovação à vista.
ser-se polítco também é isto! é tomar posições, é apoiar causas, é manifestar-se na rua, é denunciar injustiças, é ser capaz de dizer não, é ir para os jornais. ser-se revolucionário também é isto....
... de modos que às quartas-feiras faço a revolução, mas as quintas, sextas, sábados, domingos, segunda, terças e feriados também estou atenta.

interioridade a quanto obrigas!

Olá Zé,

"Acabei ontem a reunião já tarde. Estava marcada para as 16h30, mas o homem atrasou-se e não consegui já sair de Beja.
Correu bem!
Vou hoje, mais logo às 15h45m e só chego aí perto das 19h.

Amanhã faço greve.

Pedi à Ana para enviar os materiais da Lucie Cabrol para o Miguel designer, mas ela não sabe se tem tempo. Talvez a Elisa possa fazê-lo.

E, já agora, podia também imprimir as cartas dos Retratinhos que deixei prontas, bem como os anexos e distribuir nas escolas. Se conseguir.

Até 5.ª,
MJ"

Enviei este mail hoje para a "entidade patronal".
Efectivamente assim foi.
O Alentejo continua após tantos anos mal servido de transportes. E estamos a falar de Beja/Faro o que faria se falássemos de Beja/Lisboa?
Mas o que mais me apoquenta nem é isto! A "entidade patronal" respondeu mostrando-se solidária com a interioridade e nem uma palavra quanto ao trabalho propriamente dito!
O que mais me apoquenta hoje é ter comido uma lata de sardinhas ao almoço e (agora reparei bem na forma como escrevi a coisa). De facto, além das sardinhas devo mesmo ter comido a lata e - assim sendo - estão a ver que o raio da viagem foi uma coisa demoníaca.
O molho de tomate, a latinha de abertura fácil, a sardinhinta pescada em formato de feto, o óleo em que se banhava, tudo às voltas no meu estomâgo passando as curvas de Aljustrel, as rotundas de Castro Verde, a velocidade estonteante da auto-estrada, os prédios horrorossos de Albufeira, as avenidas largas e verdes de Vilamoura e o terminal rodoviário mais pobre do país, em Quarteira.
Ser-se alentejano, às vezes, pode ser chato porque devíamos de comer as sardinhas de alto mar no Algarve e assim evitávamos sair daqui e apanhar indigestões, vómitos e caganeiras.

Mas ele há coisinhas que ainda assim merecem a pena! Aí há, há!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

"coisas mesmo à ..."

na minha vida, para simplificar, habituei-me a dividir o mundo em duas categorias: a "das coisas mesmo à Beja" e a "das coisas mesmo à Lisboa".
uma está no extremo da outra.
também podia começar este texto todo de pernas para ar apelando ao sentimento e escrevendo assim "sou uma mulher sensível".
passo a explicar: quando eu vou a Beja há sempre uma amigo ou uma amiga para tomar café, mas esse mesmo não se fica por aí. garante-me que me vai buscar a casa e que me leva de novo. se eu precisar de passar na farmácia, é claro, é óbvio que me dá uma boleia. mas tão, tão óbvio que nem a questão se coloca. se o meu amigo ou conhecido tiver uma horta como o João Brandão, que por acaso até é de Faro, é natural que me ligue e me pergunte que ervas preciso. estamos no domínio "das coisas mesmo à Beja". se no mesmo dia que alguém tem a coragem de me dizer que "chateio com muitas mensagens", algo bem ao estilo "das coisas mesmo à Lisboa" é bom receber um mail do Pedro Soares a dizer "obrigada , Margarida. tens bom coração", e aqui, claro, estamos no domínio "das coisas mesmo à Beja". entendem?
no domínio "das coisas mesmo à Beja" as pessoas entreajudam-se, preocupam-se, questionam, apoiam-se, partilham problemas, até despesas e pequenas alegrias.
é que a vida é complicada e eu sou mesmo uma pessoa sensível. portanto, tudo o resto que me fuga dos parâmetros entra na categoria "das coisas mesmo à Lisboa". "vem ter comigo", dizem, mesmo que eu esteja a quilómetros de distância, não tenha carro e o outro sim. "ah! mas para te ir buscar tinha que fazer um desvio" ou "vou passar férias à tua casa" (e eu pensando que isso se deve ao facto de ter casa na praia, apesar de já não ver o interlocutor há 500 anos). "almoçamos todos" e a conta? quem paga? estamos - é bom de ver - no domínio "das coisas mesmo à Lisboa".
a tendência está a disseminar-se e os tiques da capital estão a dar conta dos mais pacóvios e aldeões, gente desatenta e desamigada. (abertas as excepções aos amigos da capital, claro!).
certo, certo é que há "coisas mesmo à Lisboa" em todos os cantos da vida. e eu não me habituo a isso. é que não me habituo a isso. mesmo! de todo em todo!
é que sou uma pessoa sensível.
sabem?

domingo, 21 de novembro de 2010

perguntadeiriti compulsiviti cusquite

não posso vir aqui malhar nos que falam muito e não se interessam por nós e, ao mesmo tempo, malhar nos outros que constantemente nos perguntam isto e aquilo.
uma pessoa não pode querer uma coisa e o seu contrário.
mas...
posto isto, esta verdade insofismável do senso comum, é preciso acrescentar outra.
e a outra é: o que é demais também não presta.
assim, o que me tráz aqui hoje é aquela espécie de pessoa sobejamente conhecida que se situa entre o interessado, o interesseiro, o disfarçado de atencioso e vá - para dizer a verdade - O CUSCO!
o que move esta espécieme, de nome científico perguntadeiriti compulsiviti cusquite, é a mais pura das curiosidades e nunca, mas nunca a preocupação. é a pura das curiosidades a roçar a ansiedade, a aflição, um certo ar de sonsice e a sensação de perda de controle.
senão vejamos:
Ela - "estás bonita hoje"
Eu - "obrigada"
Ela - "nunca te vi com esse vestinho. não é novo, não?"
Eu - "é"
Ela - "pois! nunca te vi com ele. não compraste há muito tempo?"
Eu - (já em ares de porrinha e em jeitos monossilábicos) - "não"
Ela - "está tão na moda, compraste em Beja?"
Eu - "não" (já em jeitos de sabe-se Deus!)
Ela - "ah! é que podia ter sido no fim-de-semana, então foi em Lisboa?"
Eu - "não"
Ela - "não me vais dizer que to ofereceram!"
Eu - "sim"
Ela - "ah! e não dizias nada. foi o teu pai?"
Eu - "não"
Ela - "já sei. foi ............................................ e por aqui adiante até saber quem de facto tinha sido, quando, onde o havia comprado, quanto havia custado, se porventura o teria experimentado, etecetera, etecetera, etecetera".
há pessoinhas assim! garanto-vos que há pessoinha assim. pessoinha chata, moideira, excessiva, desconhecedora do limite e até da boa educação, intrusiva como a merda, puffff.
há pessoinhas que querem tanto, mas tanto, tanto, tanto saber do alheio que não vêem que quisemos ir ao café sozinhas para fumarmos aquele cigarrinho da paz, não vêem que gostamos de ir à hora de almoço lamber montras para inventar um pouco, não vêem que estamos a fazer cálculos no excel ou que queremos escrever um texto com princípio, meio e fim, não vêem que não queremos responder, não vêem que não queremos saber e que não queremos que elas saibam, não vêem que tínhamos uma avô castradora que nos obrigou ao silêncio, avó esta que ao perguntarmos "mas para que é isto?", mas o que é aquilo", "então e isto aqui", nos respondia muito pedagogicamente "É PARA POR NO CU DOS PERGUNTADORES!"
não vêem que, em alternativa, para as pessoinhas em questão, há outra boa respostinha, desta feita não da avó, mas duma terra muito, muito alentejana e que remata qualquer diálogo destas espéciemes com uma lapidar perguntinha também: "A SUA VIDINHA NÃO LHE CHEGA?"
Ah! Se eu gostava de conseguir aventar-lhes ou com uma ou com outra
(mas não consigo. nem quando estou prestes a explodir. merda!)

sábado, 20 de novembro de 2010

Irène

A memória de uma história de amor, quarenta anos depois do desaparecimento da amada [memória da sua mulher Irène Tunc, uma ex-Miss França, com a qual tinha uma relação complicada e que morreu subitamente, em Janeiro de 1972, num acidente de automóvel], através da leitura de um diário construído pelo próprio realizador. Íntimo e Tocante. O diário de Alain Cavalier congrega uma ausência, que vive de fantasmas – o fantasma de Irène, naturalmente, mas também o fantasma do jovem “cavalier” dos anos 70.
Mais do que nunca, Irène mostra que o cinema é a arte dos espectros, na sua essência e oferece a possibilidade de fazer reaparecer qualquer um dos mortos.
Este diário não é simplesmente um devaneio de notas redigidas rapidamente, mas um texto literário de onde se apoia a qualidade do filme. E depois há a voz do cineasta, uma voz emocionada, ligeiramente encoberta, cansada, que parece sussurrar ao nosso ouvido. Esta doçura murmurada contribui para fazer de IRÈNE uma espécie de confissão íntima, um filme que se assemelha mais às confidências de um amigo do que a entretenimento. E que transforma cada espectador em iniciador a quem se vai confidenciar um segredo. O segredo de que o amor ultrapassa a morte, sendo transfigurado pela criação. Ou como partilhar a mais íntima das histórias.
Auréliano Tonet, Les Inrockuptibles
Texto enviado pelo Cine-Clube de Faro para me fazer sentir que todas as verdadeiras histórias de amor tem algo de louco e doentio e que nisto de amar sem sentido não estou sozinha. Obrigada! Estava a precisar!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

"vaia", "vaia" que o seu ir "tem graça"

eu não resisto!
o meu mano mais novo é um moço muito prático e muito pragmático. mexe-se bem. é criativo. empreendedor. (ah isto carregando com força finca bem o ponto final e até faz clic).
então ele agora por causa de umas circunstâncias novas em que a minha vida se inscreveu, escreveu-me um mail muito optimista cheio de dicas e bons conselhos. e dizia-me qualquer coisa como "não deves depender deste ou daquele, deves ir directamente à fonte" e a seguir deu-me vários exemplos, endereços electrónicos e contactos.
e pronto!
agora Margarida vai à fonte! vai encher a cantarinha.
Margarida vai à fonte, vai encher a cantarinha, lá, lá, lá!

mulher DOVE - mulher comum



sinto-me uma mulher DOVE: a pele depilada, lisinha, macia, aveludada, o rosto hidratado, o cabelo brilhante, forte, liso também, solto, saudável, com uns brancos aqui e acolá, umas ruguinhas a sorrirem nos olhos, uma barriguinha qual Maria de Medeiros em Pulp Fiction a dizer ao outro na cama que a proeminência era "sexy".


gosto de me sentir uma mulher DOVE.


contudo, a preocupação é a seguinte: e se for pedir emprego à Berska, à Stradivarius, à Pull&Bear, à Massimo Dutti ou à Zara, será que mo dão?


é que... ou é impressão minha ou só vejo lá moças de bigo à mostra, sem cus, sem mamas, sem trambelho, sem frio e sem chicha?


eh! dei por mim a pensar nisto e a seguir bah encolho os ombros!

se, if, si

hoje tirava o dia (e tirei)
fazia a mala (e fiz)
partia rumo a Lisboa (mas não parti)
ia a uma consulta (desmarquei)
ia almoçar com o Jorge (cancelei)
jantar com a Renata (enviei sms)
amanhã manifestava-me anti-NATO(mente)
à noite jantava com os colegas do cursos de há quase 500 anos
(está marcado há + de 1 mês) (respondi por mail)
no domingo ia para Beja (assim vou amanha ou hoje ainda)
reunia com 1 (e hei-de reunir)
reunia com outro (também)
acabava aquilo (que aquilo é que importa)
na segunda ia lá (e vou)
depois vinha-me embora (e venho)

SE,
no condicional
faria isto tudo se
se isto, se aquilo, se o outro
SE NÃO ESTIVESSE TÃO CANSADA!
PORRA!
mas estou!

Remember?
Si Present - Futur
Si Imparfait - Conditional

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

terapia do elogio/cartas de recomendação

há pessoas que têm dificuldades em fazer elogios (ponto final) dizer coisas simples como "olha que bonita que estás", "bem lembrado da tua parte", "és capaz de ter razão", "gostei da tua proposta", "estás a evoluir, continua" e outros ainda mais simples como "gosto de estar aqui contigo", "és simpática" (ponto final)
há inclusive pessoas que não são capazes de lamentar os teus desgostos, que fogem a sete pés se te vêem com uma lágrima a escorrer cara abaixo (ponto final)
há mesmo pessoas incapazes de dar um abraço, passar a mão pelo ombro ou apertá-la com força (ponto final)
há pessoas - vejam lá - que nem os parabéns conseguem dar-nos (ponto final)
ou - ainda mais absurdo - aquele beijo de despedida antes das férias grandes do Natal (ponto final)
há pessoas e pessoas!
elenquei todas as residências que produzimos nos últimos 3 anos + os espectáculos que produzimos nos últimos 3 anos, acrescentei que tinha sido responsável pela comunicação e pela contabilidade da casa e que - em termos administrativos - havia concebido alguns instrumentos facilitadores da boa prossecução do trabalho (ponto final)
esta última parte tirou "porque dava mau aspecto", disse (ponto final) "é como se nós não fossemos organizados antes de tu chegares" (ponto final) e disse "sim, está ok, vou assinar" (ponto final)
então e não dizes, não acrescentas, não escreves que fiz essa merda toda bem?
"ah!", exclamou (ponto final) "pois", tendo acrescentado a seguir um parágrafo quase, quase elogioso (ponto final)
realmente ele há pessoas (reticências, conjunto de supostos não pontos finais, mas que não finalizam nada deixando tudo em aberto)
há pessoas que não recomendo!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

amizades aromatizadas

telefonou-me e leu-me uma lista extensa de nomes de ervas aromáticas
[atenção o meu sobrinho encheu-me o teclado com missangas "minusculinhas" e agora carrego no ponto final e NADA- está por debaixo uma missanga a encravar o processo]

telefonou-me e leu-me uma lista extensa de nomes de ervas aromáticas
são todas as que tenho no quintal
escolhe

tínhamos estado na noite anterior a beber um copito e a inventar empresas para fazermos
e eu disse "uma de ervas aromáticas"
como tem bastantes no quintal
telefonou-me e leu-me uma lista extensa delas
eu escolhi
poejos que adoro, coentros e oregãos

o João que me telefonou é professor universitário aposentado e tem uma horta e filhos e filhas da minha idade
o João é um bacano
acho que o João é um amigo
hei-de fazer-lhe uma açorda!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Planos
+
Propostas
+
Estratégias
+
Parcerias
+
Sinergias
+
Empatias
+++++++++++++++ espírito positivo++++++energia+++++persistência++++esperança++++
criatividade ++++originalidade+++++espontaneidade ++++ naturalidade +++++++++++++
+++++

domingo, 14 de novembro de 2010

quando as emoções causam as doenças!

"Todos nós já percebemos que quando passamos por momentos importantes de tristeza, ansiedade, raiva, problemas afectivos, pelo "stress", o nosso organismo reage e algumas vezes sentimos uma baixa da resistência. A gripe arrastada, o herpes labial, uma gastrite são formas de apresentação destas situações que enfraquecem as nossas defesas.
As tensões cronicas desencadeiam mudanças na temperatura do corpo, no processo da digestão, na pressão arterial, nos batimentos cardíacos, na respiração entre outros. Desta forma os conflitos que não encontram espaço para serem resolvidos na mente são transferidos para o corpo. Este processo é descrito pelos médicos como Somatização".

sábado, 13 de novembro de 2010

devia de estar a esta hora no 2.º módulo do workshop de jornalismo cultural da jornalista do Expresso Claudia Galhós, mas o meu corpo não quer, não quis e eu não o obriguei.
estou doente.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

escuta-te

estou doente!
às vezes o corpo precisa de adoecer como que a dizer-nos escuta-me preciso de descansar.
eu escuto o meu corpo.
o meu corpo fala comigo.
e eu obedeço-lhe

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

ordenados mínimos!

os meus vizinhos do lado esquerdo da porta e do lado direito do prédio não têm nome. ela não se chama nome de filha, ele não se chama nome de filho e a outra ela mais velha não tem nome de mãe. são três se excluirmos o cão, deutsch.
a velha tem lugar de estacionamento reservado à porta para um clio azul, por baixo a cadeira de rodas pintada de amarelo, porém nenhuma deficiência que salte à vista. conheço-a pelos gritos estridentes que dirige aos filhos, pelo tom alto da voz e pelos sussurros com que presenteia o cão “meu querido, meu amor, chéri anda cá à dona”.
a filha sem nome é gorda. gordinha e anafada. sai de manhã muito cedo, ao meio-dia e meia encontro-a no café e quando regressa não sei.
o rapaz, homem da casa não tem nenhuma autoridade ainda que a frase precedente o fizesse supor. nem nome, quanto mais! de vez em quando também grita, mas não muito alto. a forma suprema que tem de se zangar é batendo com toda a força a porta da rua. para onde irá ele agora? penso.
nesta casa não há pai, só descendência. amargura. revolta. um certo enclausuramento. não sei quantas divisões têm, só que há uma marquise contígua à minha. e paredes meias também.
porque moram estes filhos ainda com a mãe? porquê se cada um deles tem bem à vontade trinta anos no cu?
há gente comodista é verdade! que prefere estar na casinha dos pais a ter de ser desenvencilhar sozinha. têm cama e roupa lavada. não gastam dinheiro em comida. em água, gás e electricidade e muitas vezes andam em carrinhos bem montados.
mas estes vizinhos não! estes vizinhos dão-se todos tão mal, tão mal, mas tão mal que chego a ter pena deles.
não ganham por certo muito mais que o ordenado mínimo, pois caso contrário já teriam deixado a mãe entregue ao cão. tenho a certeza!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

nós por cá temos disto e mto +

recebi agora a newsletter.
no Pátio das Letras, uma livraria do tipo da do Serafim e do tipo da do Paulo Barriga, vai ter lugar no sábado uma tertúlia com Mário Zambujal dedicada ao tema: as paixões arrebatadas são como o vinho das melhores castas: primeiro alegram, depois embriagam, um dia azedam”.
inteligente, engraçado, não?

uma mulher de assentos/ acentos tónicos no A

...no A de amor, no A de António, no A de há, de existir e no A, de à procura de corrigir os ÁS maltratados dos folhetos, das tabuletas, das ementas, dos bilhetes, dos cartazes, e dos AZES da ortografia portuguesa com certeza!

episódio n.º 26

uma vez estávamos nós no Pereira com uma amigo e lembrámo-nos de começar a "aventar"nomes para um projecto que esse dito amigo tinha em mãos. ele (não o amigo, mas ele) sugeriu o nome mais interessante. eu gostei. e disse-o. e reforcei. depois ao passá-lo para o papel escrevi-o direitinho e ele comentou "só esta mulher é que me sabe por bem os acentos no A". foi um elogio. podia ser um comentário vulgar, mas para mim não. gosto de ver bem tratada a língua portuguesa. gosto de perceber que as pessoas se esmeram a escrever. que tem cuidado e que a tratam bem. e odeio dar erros sem querer.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

SONOTONE para os NARCISOS

o tema pode ser recorrente. talvez. admito. admito porquanto sei que me incomoda e cada vez mais. aflige-me esta lufa-lufa desenfreada que vai na cabeça das pessoas. de algumas pessoas. certas vezes tenho vontade de lhes enfiar um ansiólítico guela abaixo.
o zum-zum, a pressa, a correria, a urgência, o fim-do-mundo em cuecas e o último grito da batata frita está no interior de cada cérebro.
ninguém tem tempo para nada.
ninguém tem tempo para ninguém.
porém, pessoas assim não se dão conta que gastam demasiado tempo consigo próprias. tal e qual a lenda de narciso que espreitando o rio viu a sua imagem reflectida e ficou encantado consigo. dai advém a palavra narcisismo e a todos e todas quanto assim se comportam eu costumo chamar-lhes isso mesmo NARCISOS e NARCISAS.
são, regra geral, pessoas que não se desvinculam de si próprias, que vêm o mundo girar à sua volta, à volta do seu umbigo. gostam de falar porque gostam de se ouvir. masturbações ao vivo. ao telefone, nas reuniões, nas mesas de café.
pessoas também, por norma, pouco atentas aos outros, às suas necessidades, aos seus estados de espírito, às suas expressões corporais e até faciais.
falam, falam, falam. ou melhor vomitam. vomitam para cima de nós fazendo de nós baldes do lixo.
estou tão cansada de pessoas assim. e volto a falar delas porque recentemente descobri que a culpa é minha. gramar com elas e aturá-las só depende de mim. fi-lo (sim! porque já não o faço mais!) porque essas pessoas me davam a possibilidade de dormir enquanto existiam já que não lhes importava muito saber o que me ia na cabeça! enquanto falavam podia fazer na minha cabeça listas de compras, as contas do mês, mudar os móveis da casa toda contando que as deixasse falar.
e do lado de lá nem uma pergunta. então como te sentes? então como te corre o trabalho? como te sentes outra vez? (esta é a pergunta mais importante e pertinente que pode fazer-se a alguém), tens passado bem? que planos tens para amanhã? e para depois? e para a vida? estás doente? o que é que precisas? e os teus irmãos como estão?
NADA!
há pessoas que só elas estão doentes, só elas têm problemas, só elas têm casos amorosos, só elas têm mães chatas e pais ausentes, só o carro delas é que pifa, só o dinheiro delas é que não estica, só elas, elas, elas.
só essas pessoas são capazes de estar a falar ao telefone 13 minutos e 52 segundos sobre si próprias e no segundo 51 perguntam e "está tudo bem?".
este natal vou oferecer uns aparelhos SONOTONE, sob pena de colocar em causa amizades promover rupturas dolorosas com riscos acrescidos para os doentes em questão!

Justificar completamente

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

dias oitos da minha vida

hoje fui dia de pagar a renda!
para mim e para o Mundo.
sem aviso prévio, sem preparação psicológica, sem anestesia geral, a frio, sai-me da conta como que por magia em todos os dias oitos da minha vida tanto dinheiro que me custa tanto a ganhar.
trezentos euros assim, zás, num de repente.

neste dia e nada tendo a ver com isso tomou conta de mim um endiabramento.
o dia foi longo.
só jantei às dez da noite e sozinha numa cervejaria.
já estou habituada mas ainda assim não me habituo.

pago a renda sozinha.
o supermercado sozinha.
o médico sozinha.
as viagens para o médico e outras sozinha.
o seguro de saúde sozinha.
o crédito das mobílias sozinha.
a zon sozinha.
a electricidade sozinha.
o gás sozinha.
a água sozinha.
o telemóvel sozinha.
o outro telemóvel sozinha.
o condomínio sozinha.
a prestação da proteste sozinha.
e a da amnistia internacional também.

mas não são as contas que quero partilhar. nem nos dias oitos nem nos noves nem nos dez.
era só aquele jantar.
naquela cervejaria.
àquela hora.
o jantar.
e o endiabramento.

domingo, 7 de novembro de 2010

aos domingos...

...regra geral "dá-me o coração a pancada".

sábado, 6 de novembro de 2010

além-fronteiras já aqui

hoje fui a Huelva.
fui com a minha irmã. passear e comer tapas.
para o mês que vem vamos a Sevilha.
só temos que ter em atenção um pequeno pormenor: o radiador do carro!

está roto e fez-nos parar uma meia dúzia de vezes para lá e para cá em plena auto-estrada.
deitávamos-lhe água destilada com fartura e ele parecia um vulcão em erupção.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

fds

há vésperas em que me vão faltando as forças para enfrentar o fim-de-semana!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

escândalos ou como se mexem cordelinhos e se viciam os dados

Quando, há 3 anos atrás, fiquei durante 5 meses desempregada concorri a vários concursos públicos. Lia atentamente o Diário da República, 2.ª série, e concorria. Contudo, não fui prestar provas a nenhum. Surgiu-me uma oportunidade que agarrei com unhas e dentes e cá estou. Porém, e apesar de estar bem continuo atenta a outras possibilidades e arrisco. Move-me uma certa vontade interior de regressar à minha terra, não obstante aqueles com quem me cruzo me avisarem cada vez mais "está quieta! quem cá está quer-se ir embora! isto é uma merda!".
Enfim.
Numa destas tentativas de escapar à diáspora concorri para preenchimento de um lugar no gabinete de comunicação da Câmara Municipal de Almodôvar.
No primeiro dia em que prestei provas esperei pela minha vez como todos os colegas e encontrei uma particularmente simpática que curiosamente cumprimentava todos os funcionários da autarquia com olás rasgados de bom-dia. A prova estava marcada para as 11 horas, mas como os serviços funcionam bem fi-la às 4 da tarde. Três dias inteiros de trabalho perdidos: o anterior (pois não há transportes de Faro para Almodôvar), o da prova e o seguinte, pois tive que pernoitar também em Beja para só depois regressar ao Sul.
A concorrente estava muito nervosa. Dizia-se muito nervosa e, de cada vez que o júri abria a porta para mandar entrar o próximo, lá rasgava outro olá.
Todos a acharam fácil. Era sobre legislação autárquica e de comunicação social. E com consulta. Pessoalmente sai de lá com a sensação que me tinha corrido muito bem. Acertei em tudo.
Porém, desconfiada com o comportamento daquela concorrente liguei a um conhecido e perguntei-lhe frontalmente "Sabes se na Câmara precisam mesmo de álguém para o gabinete ou aquilo já está feito?", ao que o meu interlocutor respondeu "Não sei, mas tem estado lá uma estagiária", ao que retorqui "Chama-se Patrícia?", "Sim", acrescentou.
Dissipei as dúvidas quando vi as notas e reparei que a dita cuja tivera a nota mais alta de todas! Numa prova onde não há margem para erros!
Feita teimosa fui à segunda fase! Eu e os outros!
Outros 3 dias de trabalho perdidos!
Um dia inteiro a saltar de sala em sala. Pela manhã testes de atenção e concentração, de flexibilidade cognitiva, de rapidez perceptiva, de não sei o quê verbal e abstracto e - PASME-SE! - um teste de personalidade.
A psicóloga achou estranho eu, no final, querer anotar o nome dos testes num papel. E também talvez o facto de eu ter respondido, quando ela me ia dar um lápis para fazer os testes, "quero caneta, isto ou fica ou não fica".
Bom, após os testes, tivemos uma entrevista de grupo e a seguir uma entrevista individual. "Você é a pessoa mais difícil que tenho aqui", disse-me a psicóloga. "A pessoa que me vai dar mais trabalho", acrescentou. E eu sem saber se ela dizia aquilo a todos ou se era mesmo verdade e dirigido a mim. "Você tem uma personalidade forte". E depois em ar de desabafo "Isto é uma pena, tenho que ficar com os processos das pessoas durante 180 dias, se isto acabasse logo, mas não". Acrescentando "há realmente aqui pessoas com perfil". E no final "pronto, ao menos, ficou a saber como é que estas coisas funcionam".
Tire cada qual suas ilações. Eu já tirei as minhas.
Fiquei apta, mas a Patrícia ficou em primeiro lugar.
Até porque é preciso ter em conta uma variável importante: este concurso não tinha em conta um item importante a AVALIAÇÃO CURRICULAR, pois só assim é que uma estagiária podia passar à frente de todos os elementos.
Agora além de dúvidas do foro ético, subsistem-me outras....
Até que ponto é permitido fazer testes de personalidade para a a entrada na função pública?
O que é realmente avaliado?
A que é que se dá primazia? A uma personalidade reservada, mas organizada ou, por exemplo, a alguém falador e desinibido, mas pouco organizado?
Quem define o que se valoriza? Se o obsessivo se o compulsivo?
Isto é constitucional?
Embrenhada nestas dúvidas liguei para a Câmara Municipal de Almodôvar e pedi para falar com o departamento de recursos humanos. Queria saber se tinha que marcar hora para consultar os processos ou se, pelo contrário, podia aparecer no normal horário de expediente. E disse assim "por favor, quero consultar o processo tal e tal" ao que a minha interlocutora doutora respondeu "ah! isso tem que ser com o presidente do júri", ao que eu respondi "então, por favor, passe-me a chamada", ao que ela respondeu "sou eu própria!".
É impressão minha ou parece que ficou nervosa e foi apanhada?

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

trabalhos autorais

Esta semana há muito a fazer!

Deixemo-nos de lirismos.
Ele respondeu-me e disse, em post scriptum: "para mim, flirt significa uma relação sexual ocasional e eu não dei por nada!". Pois, pois não deu. Eu também não. "Vou mudar o título" - disse eu. Mas, entretanto e pensando bem não mudo coisa nenhuma. Lembro-me perfeitamente do uso da palavra nas obras de Eça de Queiroz. Era inocente. Tinha aquele sentido soft da troca de olhares, portanto o meu título FLIRT'S é queiroziano e assenta-lhe bem.

Adiante!
Esta semana há muito que fazer!

O boletim tem que ficar pronto.
Até que fui rápida na primeira paginação. Tudo arrumadinho, títulos, texto em colunas, fotografias, ficha técnica, mas... atenta às sugestões tive que mudar o tipo de letra e o espaçamento, ou seja, tenho que fazer tudo de novo.
Espera-me, por isso, uma empreitada, umas noitadas esta semana, mas desta feita com um designer ao lado. Quem sabe sabe e devemos dar ouvidos a quem sabe.
É o que eu vou fazer: aprender!

Ninguém gosta mais do que eu de um boletim, de uma folha informativa, de uma newsletter, de um jornal, de um veículozinho de comunicação escrita. Escrevê-los é um prazer, paginá-los é outro e lê-los...bom lê-los cada um me dirá.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

flirt's

fartei-me de pesquisar na internet quem ele era e não encontrei quem procurava. sei que foi um anti-fascista e comunista, caso contrário em Beja não teria direito a nome de rua. a Pedro Soares só lhe faltava o número 5, número da porta lá de casa. talvez por isso tenha pensado nele como vivendo logo muito dentro de mim, das minhas quatro paredes, do meu quarto e da minha cabeça. há também o Pedro Soares da PT, o das aldrabiçes, menino beto que ascendeu meteoricamente aos destinos do país, mas este...Pedro Soares, n.º5, de 5 estrelas também ou Peter de grow man ou Pedrito de Portugal é um quase amigo imaginário que não chegou a sê-lo porque eu desastrada como sou quando gosto das pessoas dou cabo de tudo.

conheci-o no curso de fotografia que fizemos no início de Julho com o fotojornalista do Expresso Luiz Carvalho com Z. as pilhas da minha máquina pifaram no segundo dia e ele foi a casa buscar umas dele e o carregador para mim. simpático, não?

simpático, simpático. admitam lá.

passado uns tempos tentou marcar um jantar com todos os colegas para trocarmos fotos, mas como eu não podia respondeu "oh! que pena!" e um almoçito, propôs, um "almoçito", assim mesmo, um "almoçito" vegetariano. acedi, claro. acedi. bebeu chá de gengibre e contou-me coisas da vida. um filho com dez anos, uma filha com seis e uma mulher a quem chama "a minha mulher" que desapareceu porque a vida é filha da puta e não vou contar-vos pormenores.
ia nesse dia entregar assinaturas à sede de campanha de Fernando Nobre. a ingressão na política activa era "coisa" nova para si. como para mim também encontramos um ponto em comum e falamos de alegrices e outras opções.

recebia dele e-mails daqueles que quase que se mandam a toda a gente, mas com um certo grau de selecção: petições, artigos interessantes, fotografias premiadas, etecetera. comentários no facebook também.

mais tarde convidei-o para um descafeinado depois do jantar na praia. encontrámo-nos no clube náutico, ficámos estendidos em puffs coloridos, descalços e com os pés sobre a relva à beira da ria formosa. nessa noite estava lua cheia, mas eu não comentei sequer. tinha as unhas pintadas e o meu vestido às flores.

num certo fim-de-semana levou-me até lisboa e deixou-me à porta do consultório. à volta da boleia fui ter com ele, subi à casa dos pais e estive a li a observar tudo. reparei que guardavam as cápsulas gastas da nespresso e passei a guardar também as minhas sem nem saber porquê. no caminho podia ter brincado com as crianças, inventado jogos, sugerido entretengas, mas estive demasiado centrada a observar a família.

depois disto ainda jantámos fora no meio de 27 pessoas, saímos para uns bares e uma discoteca, dançamos, bebemos gins tónicos e estou-lhe a dever um.

à medida que o tempo passava eu ia criando dele uma imagem. é sempre assim. ele provavelmente de mim também. olhava para ele como se olha para um homem mais alto. debaixo para cima. não sei porquê. um homem mais alto a que não conseguimos aceder. envergonhava-me. continha-me. censurava-me. estava desconfortável.

isto tudo porque cada vez gostava mais dele. já tinha dito que quando gosto das pessoas sou desastrada?

Pedro Soares nº 5 é meigo, atencioso, prático e pragmático, racional, mas emotivo q.b. sério, talvez até demasiado sério. inteligente. gosta de conhecer sítios, pessoas, lugares, de conversar e de ouvir (coisa rara entre nós nos dias que correm) e eu tive por ele uma quedazinha, ai tive tive.

mas já passou.

no outro dia quando o vi na feira pensei que podíamos ser bons amigos, mas envie-lhe um mail em formato de bomba suicida a ver se pegava ou largava e BUM! nem uma coisa nem outra.

foi somente a pessoa mais bonita com quem me cruzei neste reino dos Algarves. e isso merece um post, claro!

íntima idade/ intimidade

há um grau de intimidade que me transtorna.
este texto é para ser lido à noite. AVISO!
acordar todos os dias cansa e viver também, já dizia o outro filho da mãe que não me lembro se é o Pedro Paixão se o Miguel Esteves Cardoso. para o caso tanto faz. como preciso de me internar de quando em vez ou hibernar por via das séries que vi do National Geographic sei bem do que falo. não gosto de generalizações, mas convenhamos... com a idade aprendemos a generalizar em vez de ver que cada caso é um caso. portanto, já penso em termos de os homens são ou as relações são transformando-as num padrão determinado e com características comuns.
por isso digo: há um grau de intimidade que me transtorna. aquele de pensarmos as compras juntos, fazermos as listas, irmos até ao supermercado, pagarmos, colocarmos tudo nos sacos, depois no carro, depois na despensa. pensarmos o almoço de amanhã e o jantar. de ele se virar para nós e perguntar "e se hoje comessemos um franguinho assado?". transtorna-me aquele grau de intimidade em que as merdas simples do dia vão ganhando o estatuto de inhas e de inhos. aquele grau de intimidade em que ele vai para aa casa de banho connosco. o banho - por favor - é um momento tão privado, a não ser que queiramos transformá-lo numa limpeza da alma e aí já posso condescender. para não falar, claro, das outras limpezas orgânicas. transtorna-me aquela intimidade em que ele nos vê de avental ou de robe, qual doente em cama de hospital. já disse que me interno mas é sozinha. interno-me no meu interior e dispenso espectadores. há um grau de intimidade que me transtorna que é o das limpezas a dois. ele arruma a arrecadação, ela lava a loiça, ele aspira, ela passa a esfregona. não aguento. e nisto está-me cá a parecer que há aqui confusão de género. ou então para pobre sou muito esquisita - eis a frase mais reaccionária que podia dizer sobre mim. não precisa ver-me de óculos. é escusado. viajar, traçar percursos, trocar livros, discutir ideias, fazer projectos, combinar passeios, almoços, janteres, copos. fazer sexo. chega! é claro que o amor não está de fora disto. amor em doses terapêuticas, ou seja, nunca em excesso para não fazer mal. há núcleos impartilháveis de nós e devemos só deixar que nos povoem aqui e acolá a solidão. ele na casa dele, eu na minha, caso contraário rebento. rebento de tanta intimidade e eu não posso rebentar que tenho muitas coisas que fazer, entendem?

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

dia de fins dados

Acordei na hora antiga e fintei os meus finados. Fui até ao shopping. Comprei packs de meias em promoção 100% algodão e comida para a Bia em saquetas moles, gelatinosas e em saldos. Encontrei um AA bébe: roliço, branquinho, cabelinhos alaranjados e sardinhas aqui e acolá. Durante todo o dia pus as mãos na anca à procura dos bolsos que não tinha e deixa-as deslizar cintura abaixo. Também me fiz leitora de Eduardo Sá em Sindicato da Bondade. Ainda quis mandar a alguém a frase citada por António Lobo Antunes "Quando sou tu sou mais eu", mas por impossibilidade várias não encontrei o destinatário na lista do Nokia que diz "connecting people". Aprendi sobre os movimentos artísticos dos inícios do século XX na arte: pintura, escultura, cinema, fotografia, dança, teatro e música. Futurismo, surrealismo, dadaísmo...Vasculhámos mais a fundo as alterações ocorridas após a década de 70: a nova dança, o novo teatro. Visionámos excertos de espectáculos espectaculares. Escrevemos sobre eles. Entrevistámos criadores via skipe e foi interessante. Muito interessante este workshop com Cláudia Galhós, jornalista do Expresso, especializada em jornalismo cultural a quem levei um beijo do Paulo Barriga. Como diz uma amiga é bom ter esta possibilidade de falar, trocar ideias, esmiuçar, tirar dúvidas sobre questões que nos tocam e que nos interessam. Às vezes à nossa volta as conversas são desinteressantes e eu sempre gostei de aprender. Também vi o Paris com a Juliet Binoche. É um bocado americanado para não dizer amaricado, mas tive dó daquele moço bailarino que não queria morrer sem voltar a fazer amor. O Jorge disse que verteu uma lágrima no The End e eu acho que foi por isso. Ainda bem que acordei na hora antiga. Pff!