terça-feira, 2 de novembro de 2010

íntima idade/ intimidade

há um grau de intimidade que me transtorna.
este texto é para ser lido à noite. AVISO!
acordar todos os dias cansa e viver também, já dizia o outro filho da mãe que não me lembro se é o Pedro Paixão se o Miguel Esteves Cardoso. para o caso tanto faz. como preciso de me internar de quando em vez ou hibernar por via das séries que vi do National Geographic sei bem do que falo. não gosto de generalizações, mas convenhamos... com a idade aprendemos a generalizar em vez de ver que cada caso é um caso. portanto, já penso em termos de os homens são ou as relações são transformando-as num padrão determinado e com características comuns.
por isso digo: há um grau de intimidade que me transtorna. aquele de pensarmos as compras juntos, fazermos as listas, irmos até ao supermercado, pagarmos, colocarmos tudo nos sacos, depois no carro, depois na despensa. pensarmos o almoço de amanhã e o jantar. de ele se virar para nós e perguntar "e se hoje comessemos um franguinho assado?". transtorna-me aquele grau de intimidade em que as merdas simples do dia vão ganhando o estatuto de inhas e de inhos. aquele grau de intimidade em que ele vai para aa casa de banho connosco. o banho - por favor - é um momento tão privado, a não ser que queiramos transformá-lo numa limpeza da alma e aí já posso condescender. para não falar, claro, das outras limpezas orgânicas. transtorna-me aquela intimidade em que ele nos vê de avental ou de robe, qual doente em cama de hospital. já disse que me interno mas é sozinha. interno-me no meu interior e dispenso espectadores. há um grau de intimidade que me transtorna que é o das limpezas a dois. ele arruma a arrecadação, ela lava a loiça, ele aspira, ela passa a esfregona. não aguento. e nisto está-me cá a parecer que há aqui confusão de género. ou então para pobre sou muito esquisita - eis a frase mais reaccionária que podia dizer sobre mim. não precisa ver-me de óculos. é escusado. viajar, traçar percursos, trocar livros, discutir ideias, fazer projectos, combinar passeios, almoços, janteres, copos. fazer sexo. chega! é claro que o amor não está de fora disto. amor em doses terapêuticas, ou seja, nunca em excesso para não fazer mal. há núcleos impartilháveis de nós e devemos só deixar que nos povoem aqui e acolá a solidão. ele na casa dele, eu na minha, caso contraário rebento. rebento de tanta intimidade e eu não posso rebentar que tenho muitas coisas que fazer, entendem?

7 comentários:

Anónimo disse...

isso passa ... é só medo :-)

be(i)ja disse...

anónimo - do quê? ou de quem? de mim?

anademar disse...

bom, muito bom. intimidade a mais directamente ligada à idade a mais... e ao gosto de sermos nós. só. (acho eu) ou se calhar não é nada disto. e eu só queria dizer qualquer coisa.

ass. eu muito pouco criativa, sem nada para dizer mas que pressentiu que devia dizer alguma coisa... ;-) ou
ass: eu que perdeu uma boa oportunidade de ficar calada.

Camolas disse...

"Fui colher uma romã, estava madura no ramo..."

be(i)ja disse...

Camolas..."Fui encontrar no jardim fui encontrar no jardim aquela mulher que eu amo"...

be(i)ja disse...

moi chéri - acho que ainda não estás aí. não estás de todo convencida. nem tens de estar. isto bate só a alguns. ou algumas. talvez passe, talvez não. enfim...

be(i)ja disse...

Camolas - mas depois "o ramou caiu ao chão"!!!???