quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O MEDO DA FUGA

António Vilar (chamemos-lhe assim para dar humanidade à “peça”) tem 36 anos, é natural de Vila Real, a Norte, foi ontem presente a juiz.

Eu, Margarida Janeiro, tenho 35 anos e sou natural de Beja, vivendo actualmente em Faro.
António Vilar foi, cuja profissão é ser burlão, foi apanhado ontem pela PJ no âmbito da operação Tax Free.

Eu, Margarida Janeiro, escolhi ser jornalista e não tendo sido ontem, mas quase, fui apanhada na curva ascendente do desemprego.

António Vilar ganhava a vida a angariar pessoas como eu, desempregadas, mas também prostitutas, indigentes e outros com falta de dinheiro para supostamente os contratar, levá-los a declararem irs e a receberem a sua devolução, dada a alegada retenção na fonte dos alegados ordenados que alegadamente recebiam.

Margarida Janeiro alega não receber nada de ninguém. Começou o curso com 18 anos e a trabalhar aos 22 maioritariamente a recibos verdes. No ano transacto trabalhou a contrato, mas o Centro de Emprego não lhe dá o subsídio por não ter completado os 450 dias nessa condição.

António Vilar está sujeito a apresentações periódicas num posto policial estando impedido de abandonar a zona da sua residência.

Eu também! Sou obrigada pelo Centro de Emprego a apresentar-me quinzenalmente na Junta de Freguesia da minha área de residência. E pelos vistos estou também em prisão preventiva já que se não comparecer “à chamada” tenho falta e sou ameaçada de suspensão do subsídio que não me dão!

António Vilar burlou o Estado em cerca de dois milhões de euros.

O Estado burla-me a mim em cerca de novecentos euros por mês! Não interfiro nas medidas de coação administradas a José Vilar, mas não me obriguem a ir de quinze em quinze dias à Junta de Freguesia. Não sei o que vou lá fazer! Trago sempre um papel assinado e carimbado onde apenas consta a data da próxima apresentação.

António Vilar pode fugir à justiça! E eu? Fujo de quem ou do quê? Daqui eu só posso mesmo abalar para procurar emprego.Quem legislou nestes termos? Quem inventou esta medida? Com que intenção? Quais as mais-valias desta opção? O que perde e o que ganha o Estado com isto? E os desempregados? Aqueles que querem trabalhar?

Tenham vergonha!

publicado no Correio Alentejo e em Esquerda.Net

domingo, 13 de fevereiro de 2011

tenho andado por aí...





























































tenho andado por aí...
temos andado por aí!
passeando, passeando.
descobrindo.
o que vemos é da nossa inteira responsabilidade.
o que não vemos? também!
o que registamos é fruto da nossa vontade de partilhar.
e de perpetuar para sempre, mas apenas levemente na película. na retina.
estou prenhe de coisas. gentes. sítios.
tenho cores por dentro e dos dedos não me saem senão invenções que materializo na cabeça.
tudo ao contrário, portanto do antes. do antigamente.
as palavras tenho-as usado tanto que temo gastá-las, porquanto já não sei sequer escrevê-las.
afiguram-se tão pouco para o tanto que sinto.
e sinto jardins, pobreza de mão estendida, flores, rios e rias e risos, barcos, cães vadios, aconchegos, jardins outra vez, estendais urbanos, modas alentejanas, artefactos de pesca, praias, ondas, ninhos de cegonha, linhos e bordados e brocados e ainda e também bocados de coisas, gentes e sítios.
estou prenhe de vida!