quarta-feira, 11 de maio de 2011

OBRIGADA, Luísa! Enviei ao meu pai

Olá
Vi o seu contacto aqui http://femeaeu.blogspot.com/. (sou leitora).
Não sei se é a autora deste blogue, mas caso não seja terá possibilidade de fazer chegar-lhe o meu email.
Motivada pelo assunto da crónica ‘’ O 25 de Abril do meu pai’’, e pela referência ao Sud Express, remeto-lhe o link acima.
Este sítio foi criado por um grupo de exilados e imigrantes de várias gerações com a intenção de não deixar morrer a memória do comboio que nos anos 60 levou milhares e milhares de nós para França. E também para informações e registos actuais de exposições, eventos, debates... E pode enviar a história do seu pai para lá.
Cumprimentos,
Luísa Barbosa

segunda-feira, 25 de abril de 2011

o 25 de Abril do meu pai

Corriam os dias monótonos em Paris emigrado por razões políticas desde 1967. Estávamos em 1974 já tinha perdido toda a esperança de voltar a Portugal.

Uma série de factos irromperam na minha vida aos 19 anos: a iminência de ser forçado a colaborar, dentro em breve, nessa farsa que era a guerra colonial e a proibição pela Pide de me entreguar o brevet de piloto aviador de monomotores em cujo exame final tinha obtido sucesso.

Estes factos e o exílio forçado de alguns dos meus amigos, fruto da luta política, fizeram com que a única saída que se me afigurava como possível, para o meu futuro, fosse abandonar o meu país, familia, amigos e projectos. Mas eu acho que já sabia desde sempre que esse ia ser o meu destino assim que se aproximasse a idade de ir para a guerra colonial. As noites a ouvir rádios que emitiam para Portugal enchiam-nos de ódio ao ditador e recreavam os nossos sonhos de um país imaginário sem censura, sem guerra, com pão, com liberdade. A burla das eleições de 1958 que apesar dos meus onze anos vivera intensamente, por força das posições democráticas do meu pai, e a prisão de muitos trabalhadores alentejanos e de muitos estudantes indignavam-me.

Esta era a saída natural, outra não era possível...durante anos fizera conjecturas, conversara com muitos amigos que tinham familiares no estrangeiro. Sabia-se que nalguns países era possível pedir asilo político e ainda receber uma bolsa de estudo. Sabia-se que a França e outros países nos recebiam e não nos reenviavam. Os contatos com o mundo universitário davam-nos uma ideia tolerante do resto da Europa onde claro a Espanha de Franco também não se enquadrava.

Uma viagem à Europa em 1965 com a família permitiu-me contactar com um mundo diferente do nosso, em Itália e França ficámos deslumbrados com a liberdade de imprensa e a propaganda política que era visível por toda a parte, apelando à luta, fazendo eco das mais variadas reevindicações dos trabalhadores. Além da propaganda política era visível propaganda sindical. Na Suiça, eu e o meu irmão tivemos contactos com jovens exilados portugueses que nos encheram de propaganda política para trazermos para Portugal.

Cada pequeno gesto era uma caminhada e aquilo que nos outros paises era o dia-a -dia, para nós era uma luta dolorosa e constante que colocava a nossa imaginação à prova, as nossas forças e até a nossa capacidade de fazer humor.

E foi assim que essa propaganda chegou a Portugal. A descrição desse percurso faria uma outra crónica.

Idealizávamos a Europa como uma zona de tolerância e de liberdade e sabíamos que aí poderiamos continuar a luta política com certas reservas, não conhecíamos quais as reservas mas elas eram patentes em todas as conversas. Por outro lado, fazíamos todos os possíveis por permanecer no nosso País, na medida em que pudessemos desenvolver alguma actividade política legal, semi-legal ou mesmo ilegal. A ideia da partida estava na ordem do dia para os jovens da minha idade que tinham consciência política.

Era um imperativo ético e moral. Não colaborar com as políticas coloniais, não colaborar com o fascismo combate-lo por todos os meios e formas. Eram imperativos diários e de algum modo eramos obcecados por isso.

Muito jovem, a conferência de S. Vicente de Paulo, mais tarde o Cine-Clube e as tertúlias locais que frequentava foram a minha escola já que a verdadeira, o liceu, me aborrecia, fazia-me sentir infeliz por tanta indeferença para com o mundo exterior e tanta hipocrisia que inundava aqueles corredores que nunca mais acabavam.

As aulas expositivas, as “chamadas” e os “exercícios escritos” criavam-nos um estado de tensão permanente e cada um tentava encontrar escapes possíveis. Eu, pela minha parte acreditava que escondendo-me atrás do colega da frente e optando por um “low profile” como se diz agora, passava incólume. Evitar ser constantemente confrontado com aqueles saberes com os quais os professores insistiam em nos confrontar era uma luta diária. Nessas tais “chamadas” subíamos a um estrado e frente a todos íamos balbuciando umas respostas que ora divertiam os outros ora os enchiam de compaixão. A subida ao estrado era préviamente acompanhada pela abertura da caderneta do professor que passeava os seus olhos e olhares pelas folhas e pelos alunos com um ar divertido e persecutor. Era simplesmente aterrador.

Assim, num belo dia de 17 de Maio de 1967, dia do assalto ao Banco de Portugal na Figueira da Foz, pus-me a caminho no Sud Express a partir de Santa Apolónia com direccção a Paris, onde me esperavam o meu irmão e outros amigos. Foram dois dias e uma noite entre certezas e dúvidas, mas com muita decisão na certeza de vir a encontrar um mundo melhor e poder colaborar para tornar o meu Portugal um país diferente.

Entre este episódio e o 25 de Abril de 1974 passaram sete anos, sete longos anos de transformações mundiais, o fim da guerra do Vietenam, a revolução cultural na China, o Maio de 68, o fim da Primavera de Praga e a chegada do Homem à Lua.

Por cá caira o Salazar, vivera-se o Marcelismo, houve a greve da carris e outras e as inundações provocadas pelas enxurradas da noite de 25 de novembro de 1967 que criaram uma onda de solidariedade entre os estudantes e a população. O Papa recebera os dirigentes dos partidos da luta de libertação das colónias e o país estava cada vez mais isolado do mundo.
Nesse dia, no 25 de Abril de 1974 chegara ao centro de onde trabalhava e logo o Didier, um jovem utente da formação profissional, me alertou para uma revolução em Portugal. Creio lembrar-me que ele me esperava impaciente no portão do Centro de Formação.

O resto do dia passei-o a tentar saber notícias através das rádios e durante o dia ainda tentei sem efeito telefonar para Portugal. As reportagens sobre Portugal iam pouco a pouco revelando dia após dia o verdadeiro caractér do 25 de Abril e o 1º de Maio foi transmitido em directo para França. Em grupo assistimos eu, a minha mulher e amigos de Baleizão a essa transmissão em directo. Ver e ouvir aquele mar de gente numa manifestação nunca vista antes em Portugal era um incentivo ao meu regresso agora com a mulher e um filho. Do pensamento ao acto foi um ápice. Nessa mesma tarde fui ao Quartier Latin percorrer os muitos cafés onde pairavam normalmente os portugueses para trocar impressões, mas só encontrei o Adolfo Ayala que, no número 93 do boulevard Saint Michel, embalava os seus pertences que fora acumulando depois de muitos anos de exílio da Argélia em França. Perguntou-me, quase indignado, porque ainda ali estava enquanto separava os pertences que pretendia levar e aqueles que era obrigado a abandonar. Ofereceu ao meu filho um porta chaves, um elefantezinho de madeira que ele iria guardar anos a fio e despedimo-nos fazendo votos de nos encontrarmos em Lisboa.

No dia seguinte, depois de um dia atribulado para obter um passaporte no consulado, pudemos embarcar num avião repleto de portugueses exilados. Chegámos na madrugada do dia 3 de Maio. À cautela elaboramos uma lista com nomes e moradas de familiares de todos os que iam no avião não fosse acontecer algum problema à chegada e a minha mulher ficou fiel depositária dessa lista, o que a aterrorizou.

Depois, depois tudo se precipitou, o avião aterra e antes de qualquer transporte chegar para nos levar ao aeroporto, essa turba de exilados desata a correr invadindo o aeroporto onde somos recebidos de braços abertos pelos militares que guardavam a zona das chegadas. Um dos nossos trazia um molho de cravos vermelhos que destribuiu por todos. Às tres da manhã do dia 3 de Maio de 1974 passaram-se estes episódios, para que conste.

Muitos exílios terminaram aqui, um mar de lutas e algumas desiluções iriam recomeçar...

jr

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Asmodeus ou as políticas do demo!

“O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Toda a vida espiritual, intelectual, parada. O tédio invadiu todas as almas. A mocidade arrasta-se envelhecida das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce. As quebras sucedem-se. O pequeno comércio definha. A indústria enfraquece. A sorte dos operários é lamentável. O salário diminui. A renda também diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.”

Corria o ano de 1871 e apareciam nas bancas lisboetas uns opúsculos de capa alaranjada ornamentados com o diabo de Asmodeus ostentando o título As Farpas. Nela figuravam os nomes de Eça de Queiroz e de Ramalho Ortigão. Da primeira publicação destes caderninhos de cerca de 100 páginas transcrevi a parte acima descrita, à laia de introdução, pela acutilância e pela incrível actualidade que as palavras dos autores contêm.

Porque efectivamente o Estado é um ladrão e um inimigo que se alimenta dos impostos dos contribuintes sem funcionar como garante de serviços de qualidade: na saúde, na educação, na justiça.

Porque efectivamente “a ruína económica cresce, cresce, cresce”. Os senhores que elegemos nos idos de 2005 têm vindo a gerir mal, muito mal os recursos do País, os institutos, as fundações e as empresas públicas: refers, metros, taps, rtps. E depositado uns milhares de euros nos bpns e nos bpps. Porque o Banco Central Europeu empresta dinheiro aos bancos com juros que rondam o um por cento e estes, por sua vez, compram a dívida portuguesa e impõem um juro que já ultrapassa os oito. No ano passado, bcp, bpi e bes lucraram três milhões por dia! Aí Eça! Ai Ramalho! “alguns agiotas felizes exploram”.

E com que legitimidade? Com que legitimidade prometem criar cento e cinquenta mil novos postos de trabalho e, pelo contrário, vemos o desemprego subir a galope? Vivemos num País que apresenta seiscentos e vinte mil desempregados! A que se somam os inactivos disponíveis e o sub-emprego perfazendo os setecentos e setenta mil!!

E com que legitimidade se corta nas pensões? Nos abonos de família? Nos ordenados?

Com que legitimidade nos propõem medidas de austeridade sucessivas: pec 1, pec 2, pec 3 e pec 4?

Houve quem por nós tentasse defender o tão apregoado interesse nacional, porém já quase “ninguém crê na honestidade dos homens públicos”. É por isso preciso continuar a falar alto e em bom som para que a luta não esmoreça e o povo ainda acredite.

Depois do parlamento dissolvido, vivemos com uma comissão permanente que muito pouco ou nada pode fazer e já, já vamos para eleições. Abdicando da propaganda eleitoral podem poupar-se cerca de cinco milhões e meio de euros e – quanto ao que tanto apoquenta Portugal – sabemos que a resposta relativa à ajuda externa pode esperar.

A partir de 5 de Junho poderá espetar a sua farpa bem fundo na urna de voto! Não dê razão a Eça. Não dê razão a Ortigão. Não deixe que o tédio invada todas as almas. Para si leitor de bom-senso, para parte da mocidade que se arrasta nas mesas do café, para si membro da geração à rasca, para si seja lá quem for: VOTE!

Vote! Há alternativas! Óh, se há!

publicado no Correio Alentejo e em Esquerda.Net

quarta-feira, 23 de março de 2011

"anda um pai criando uma filha para isto!"

de facto! o meu não o diz, não é isso!, mas digo eu: atão andou um pai fazendo um 25 de Abril para isto? e aqui - repare-se - o artigo indefinido "um" não está lá atrás por distracção. é um 25 de Abril e não o 25 de Abril porque ele não é único. ou não foi! estamos cá nós para fazer outro. e atenção que estamos prestes!

não podemos desbaratar assim a olhos vistos o direito que o meu pai, a tua mãe e os nossos tios conquistaram de votar ou dar de barato o acesso à saúde pública e à democratização do ensino (e não não me enganei, não se trata de massificação óh! reaccionários!).
não podemos esquecer-nos dos contratos colectivos de trabalho, do acesso à segurança social, da liberdade de dizermos, escrevermos, cantarmos o que quisermos. não podemos nem devemos, ou melhor, temos o dever de fazer lembrar a quem já não tem memória que nós temos a memória dos tempos não vividos (faz de conta!) e que por isso não aceitamos que nos retirem os abonos dos filhos que temos medo de ter, que nos aumentem os impostos que não retornaremos a ver, que nos paguem a recibos verdes como se o país estivesse pejado de empresários por conta própria, que aumentem o número de dias para acesso ao subsídio de desemprego, etecetera, etecetera, etecetera por aí adiante.

hoje a besta caiu! bum! catrapum!
para quem não tem tido tempo de a fazer quotidianamente prepare-se: está na hora de a fazer agora! A REVOLUÇÃO!

segunda-feira, 21 de março de 2011

coisas pequenas

diz que hoje começou a primavera e diz que hoje plantei salsa, pés de malva que roubei no passeio de domingo e que fiz ainda um jardim de cactos que se cinge a um vaso só.
são coisinhas destas que me fazem feliz!
pode ser um lugar-comum. sim! talvez seja, mas subscrevo inteiramente essa ideia de que com a idade vamos aprendendo a dar valor às coisas simples da vida.

sábado, 12 de março de 2011

quinta-feira, 10 de março de 2011

CENTRO de (DES)EMPREGO

Depois de termos dado conta neste espaço de uma medida absurda do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) aplicada aos desempregados, a da obrigatoriedade de apresentação quinzenal na Junta de Freguesia da sua área de residência, com objectivos que desconhecemos, e também, em segunda crónica, de um instrumento de divulgação de ofertas de emprego pejado de intenções eticamente questionáveis, vamos debruçar-nos agora sobre a missão do próprio IEFP tal como o mesmo a define.

Segundo pode ler-se na documentação entregue aos desempregados, que não saberíamos que tínhamos não fora o dossier que nos dão, existe uma “coisa” chamada PPE e outra PAE. Ora bem!

Por PAE entenda-se Procura Activa de Emprego.

Por PPE, Plano Pessoal de Emprego.

A definição das diligências da PAE inclui a resposta a anúncios e outros meios de informação de ofertas de emprego; a apresentação de candidaturas espontâneas; a criação do próprio emprego; o registo do curriculum vitae em sites da internet e a inscrição em empresas de recrutamento e selecção, em empresas de trabalho temporário e agências privadas de colocação.

Enfim, quase que poderíamos dizer que até aqui tudo bem não fora a última alínea ser tão duvidosa! Deve o Estado, através do IEFP, promover as empresas e agências suas “concorrentes”, empresas estas que ficam com uma percentagem do dinheiro dos salários dos trabalhadores?

A demonstração da prova de Procura Activa de Emprego (PAE) é, segundo o IEFP, um caso sério que se demora em 10 extensas e exigentes alíneas. Destaco duas ou três!

Para fazer comprovativo do envio dos currículos deve o desempregado ter a cópia do registo de envio da carta. Ora convenhamos! Enviar uma carta já sai caro, enviá-la com registo mais ainda!

Para fazer comprovativo da resposta a anúncios deve o desempregado possuir a carta de resposta das entidades contactadas. Pois bem! É certo e sabido que ninguém, mas ninguém neste País responde aos milhares de currículos recebidos diariamente nas secretárias ou nas caixas de e-mail! É uma vergonha. Deviam ser obrigados a fazê-lo já que o Estado o impõe como condição, mas…

E finalmente, para fazer comprovativo da comparência nas entrevistas de emprego deve o desempregado possuir uma declaração emitida por um representante da entidade, mas caso tal não seja possível aceita-se uma declaração sobre compromisso de honra com indicação expressa da entidade onde a entrevista ocorreu, para “eventual confirmação por parte do Centro de Emprego”.

Todos os procedimentos, do Centro de Emprego à repartição da Segurança Social e desta à Junta de Freguesia, partem sempre da desconfiança, possuem um carácter intimidatório, a linguagem é de proibição, de vexame, de policiamento, ainda que – diga-se - os funcionários dos ditos locais quase não nos dirijam palavra.

O atendimento é breve. As perguntas são de identificação pessoal ou de carácter patrimonial (que bens tem, quanto valem, onde estão registados, quanto dinheiro tem na conta, etecetera, etecetera), contudo são suficientemente incómodos.

Os funcionários falam pouco, portanto. E, assim, ficamos a conhecer os deveres pelo papel e é também no papel que curiosamente conhecemos os direitos. Descubro com surpresa que compete aos Centros de Emprego definir com os candidatos as diligências mínimas a efectuar, o tipo de acções a desenvolver, assim como as respectivas quantificações e frequências com que devem ocorrer. Chama-se a isto o tal PPE no âmbito do qual deve, segundo o próprio Instituto, promover-se o envolvimento do desempregado e a sua atitude pró-activa, tendo em conta para tal os factores individuais e de contexto!

É evidente que se não formos nós a fazer-nos valer, não é o IEFP que o faz! Esta abordagem não existe. Este acompanhamento não é feito. Este tratamento não tem lugar.

Talvez por isso tenhamos que ter em conta os números sérios do INE e não os IEFP.

Há muito que muitos já nele não se inscrevem.

Se ao menos pudéssemos marcar-lhes faltas também!?

publicado no Correio Alentejo e em Esquerda.Net

quinta-feira, 3 de março de 2011

VALE TUDO

Recebo todos os dias na minha caixa do gmail um e-flyer do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). O dito é produzido com base na informação compilada numa base de dados, a nível nacional, o denominado portal Net-Empregos anunciado com pompa e circunstância por Sócrates há uns anos atrás.

Com 1.196.448 candidatos inscritos, o portal auto-denomina-se “o maior site de emprego em Portugal”. Nele se podem registar quer pessoas à procura de trabalho, quer entidades à procura de trabalhadores. Porém, a plataforma e os e-flyers que produz de institucional e sérios têm muito pouco.

Como admitir publicidade neste tipo de suportes? E que publicidade? Quem ganha com isso? O próprio Estado? A quem pediu ele autorização para a veicular? Aos candidatos inscritos? Deve o próprio Estado “alimentar” a promoção de agências financeiras duvidosas quando o crédito mal parado atinge no País elevados números? E deve escolher os desempregados como público-alvo para a promoção dessa mensagem? Isto é ético?

Pode o Estado, através do IEFP, promover junto dos desempregados o Barclaycard com créditos até 6 mil euros? Ou a Cetelem? Ou utilizar os seguintes slogans “Tenha até 20.000€ na sua conta em 48 horas. Pré-aprovação on-line”, “Cartão de Crédito CITI: anuidades grátis para sempre!”, “De 500€ a 4 000€. Mensalidades fixas a partir de 15€”.

E promover os seguintes passatempos? “Johnnie Walker Experiences Habilite-se a ganhar prémios”, “Participe e Ganhe até 114.000EUR! Concurso Roda do Ouro”?

Deve o portal do IEFP e os e-flyers que produz a comunicar as ofertas de emprego disponíveis, fazer publicidade a “escolas” onde se aprende inglês a crédito e a prestações?

E o que dizer da promoção de entidades que não se identificam? Em cujo cabeçalho surge “anónimo”? Ou da aceitação de requisitos onde esteja expressa a idade máxima do concorrente? E do género?

Outros há em cujo e-flyer surgem escritos abusos como este “6 meses de estágio curricular não remunerados” ou este ainda mais gritante “PROCURA-SE jornalista na área da comunicação preferencialmente que tenha experiência no âmbito de revistas, jornais, rádios e restantes órgãos comunicação social com capacidade de organização e gestão das diversas matérias e que queira trabalhar muito e ganhar pouco!”?

Leu bem! Fiz copy paste.

E chamam a isto serviço público?

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O MEDO DA FUGA

António Vilar (chamemos-lhe assim para dar humanidade à “peça”) tem 36 anos, é natural de Vila Real, a Norte, foi ontem presente a juiz.

Eu, Margarida Janeiro, tenho 35 anos e sou natural de Beja, vivendo actualmente em Faro.
António Vilar foi, cuja profissão é ser burlão, foi apanhado ontem pela PJ no âmbito da operação Tax Free.

Eu, Margarida Janeiro, escolhi ser jornalista e não tendo sido ontem, mas quase, fui apanhada na curva ascendente do desemprego.

António Vilar ganhava a vida a angariar pessoas como eu, desempregadas, mas também prostitutas, indigentes e outros com falta de dinheiro para supostamente os contratar, levá-los a declararem irs e a receberem a sua devolução, dada a alegada retenção na fonte dos alegados ordenados que alegadamente recebiam.

Margarida Janeiro alega não receber nada de ninguém. Começou o curso com 18 anos e a trabalhar aos 22 maioritariamente a recibos verdes. No ano transacto trabalhou a contrato, mas o Centro de Emprego não lhe dá o subsídio por não ter completado os 450 dias nessa condição.

António Vilar está sujeito a apresentações periódicas num posto policial estando impedido de abandonar a zona da sua residência.

Eu também! Sou obrigada pelo Centro de Emprego a apresentar-me quinzenalmente na Junta de Freguesia da minha área de residência. E pelos vistos estou também em prisão preventiva já que se não comparecer “à chamada” tenho falta e sou ameaçada de suspensão do subsídio que não me dão!

António Vilar burlou o Estado em cerca de dois milhões de euros.

O Estado burla-me a mim em cerca de novecentos euros por mês! Não interfiro nas medidas de coação administradas a José Vilar, mas não me obriguem a ir de quinze em quinze dias à Junta de Freguesia. Não sei o que vou lá fazer! Trago sempre um papel assinado e carimbado onde apenas consta a data da próxima apresentação.

António Vilar pode fugir à justiça! E eu? Fujo de quem ou do quê? Daqui eu só posso mesmo abalar para procurar emprego.Quem legislou nestes termos? Quem inventou esta medida? Com que intenção? Quais as mais-valias desta opção? O que perde e o que ganha o Estado com isto? E os desempregados? Aqueles que querem trabalhar?

Tenham vergonha!

publicado no Correio Alentejo e em Esquerda.Net

domingo, 13 de fevereiro de 2011

tenho andado por aí...





























































tenho andado por aí...
temos andado por aí!
passeando, passeando.
descobrindo.
o que vemos é da nossa inteira responsabilidade.
o que não vemos? também!
o que registamos é fruto da nossa vontade de partilhar.
e de perpetuar para sempre, mas apenas levemente na película. na retina.
estou prenhe de coisas. gentes. sítios.
tenho cores por dentro e dos dedos não me saem senão invenções que materializo na cabeça.
tudo ao contrário, portanto do antes. do antigamente.
as palavras tenho-as usado tanto que temo gastá-las, porquanto já não sei sequer escrevê-las.
afiguram-se tão pouco para o tanto que sinto.
e sinto jardins, pobreza de mão estendida, flores, rios e rias e risos, barcos, cães vadios, aconchegos, jardins outra vez, estendais urbanos, modas alentejanas, artefactos de pesca, praias, ondas, ninhos de cegonha, linhos e bordados e brocados e ainda e também bocados de coisas, gentes e sítios.
estou prenhe de vida!