terça-feira, 2 de novembro de 2010

flirt's

fartei-me de pesquisar na internet quem ele era e não encontrei quem procurava. sei que foi um anti-fascista e comunista, caso contrário em Beja não teria direito a nome de rua. a Pedro Soares só lhe faltava o número 5, número da porta lá de casa. talvez por isso tenha pensado nele como vivendo logo muito dentro de mim, das minhas quatro paredes, do meu quarto e da minha cabeça. há também o Pedro Soares da PT, o das aldrabiçes, menino beto que ascendeu meteoricamente aos destinos do país, mas este...Pedro Soares, n.º5, de 5 estrelas também ou Peter de grow man ou Pedrito de Portugal é um quase amigo imaginário que não chegou a sê-lo porque eu desastrada como sou quando gosto das pessoas dou cabo de tudo.

conheci-o no curso de fotografia que fizemos no início de Julho com o fotojornalista do Expresso Luiz Carvalho com Z. as pilhas da minha máquina pifaram no segundo dia e ele foi a casa buscar umas dele e o carregador para mim. simpático, não?

simpático, simpático. admitam lá.

passado uns tempos tentou marcar um jantar com todos os colegas para trocarmos fotos, mas como eu não podia respondeu "oh! que pena!" e um almoçito, propôs, um "almoçito", assim mesmo, um "almoçito" vegetariano. acedi, claro. acedi. bebeu chá de gengibre e contou-me coisas da vida. um filho com dez anos, uma filha com seis e uma mulher a quem chama "a minha mulher" que desapareceu porque a vida é filha da puta e não vou contar-vos pormenores.
ia nesse dia entregar assinaturas à sede de campanha de Fernando Nobre. a ingressão na política activa era "coisa" nova para si. como para mim também encontramos um ponto em comum e falamos de alegrices e outras opções.

recebia dele e-mails daqueles que quase que se mandam a toda a gente, mas com um certo grau de selecção: petições, artigos interessantes, fotografias premiadas, etecetera. comentários no facebook também.

mais tarde convidei-o para um descafeinado depois do jantar na praia. encontrámo-nos no clube náutico, ficámos estendidos em puffs coloridos, descalços e com os pés sobre a relva à beira da ria formosa. nessa noite estava lua cheia, mas eu não comentei sequer. tinha as unhas pintadas e o meu vestido às flores.

num certo fim-de-semana levou-me até lisboa e deixou-me à porta do consultório. à volta da boleia fui ter com ele, subi à casa dos pais e estive a li a observar tudo. reparei que guardavam as cápsulas gastas da nespresso e passei a guardar também as minhas sem nem saber porquê. no caminho podia ter brincado com as crianças, inventado jogos, sugerido entretengas, mas estive demasiado centrada a observar a família.

depois disto ainda jantámos fora no meio de 27 pessoas, saímos para uns bares e uma discoteca, dançamos, bebemos gins tónicos e estou-lhe a dever um.

à medida que o tempo passava eu ia criando dele uma imagem. é sempre assim. ele provavelmente de mim também. olhava para ele como se olha para um homem mais alto. debaixo para cima. não sei porquê. um homem mais alto a que não conseguimos aceder. envergonhava-me. continha-me. censurava-me. estava desconfortável.

isto tudo porque cada vez gostava mais dele. já tinha dito que quando gosto das pessoas sou desastrada?

Pedro Soares nº 5 é meigo, atencioso, prático e pragmático, racional, mas emotivo q.b. sério, talvez até demasiado sério. inteligente. gosta de conhecer sítios, pessoas, lugares, de conversar e de ouvir (coisa rara entre nós nos dias que correm) e eu tive por ele uma quedazinha, ai tive tive.

mas já passou.

no outro dia quando o vi na feira pensei que podíamos ser bons amigos, mas envie-lhe um mail em formato de bomba suicida a ver se pegava ou largava e BUM! nem uma coisa nem outra.

foi somente a pessoa mais bonita com quem me cruzei neste reino dos Algarves. e isso merece um post, claro!

2 comentários:

Camolas disse...

Moço sortudo.
Gostei da parte das unhas dos pézes pintadas e do vestido às flores.

H disse...

Não faço ideia quem é, mas o texto está realmente bonito! Ele nem imagina o que perdeu...