domingo, 28 de novembro de 2010

mães

há mães que o são por inerência de funções.
ninguém lhes ensinou nada, ninguém lhes contou nada, ninguém lhes leu nada. as mães bafejadas pela inerência de funçoes (re)nascem ensinadas no momento em que parem os seus filhos.
sabem discernir o seu choro, não se afligem, não choram elas próprias. adivinham-lhe o desconforto da fralda, da fome, da sede sem telefonar para o ti-nó-ni. acalmam os seus filhos com um embalo, um colo, um encosto, um carinho, um afago. dão-lhes banho como quem regressa ao ventre. mais tarde cantam-lhe canções de embalar, sentam-se no chão quando começam a gatinhar, moem os legumes para começarem a mastigar, medem-lhes a febre se se estão a constipar, dormem no seu leito se a doença ameaçar.
as mães por inerência de funções muitas vezes não dormem para vigiar. também não gritam para não assustar. também não batem para se salvaguardar. também não vacilam para não insegurar.
as mães por inerência de funções são maduras e crescidas.
são meigas, carinhosas, atenciosas. param para escutar. dão resposta. fazem perguntas. têm curiosidade, tacto, amabilidade.
e nisto como noutra coisa qualquer só consegue sê-lo quem já é muito mulher.

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