quinta-feira, 4 de novembro de 2010

escândalos ou como se mexem cordelinhos e se viciam os dados

Quando, há 3 anos atrás, fiquei durante 5 meses desempregada concorri a vários concursos públicos. Lia atentamente o Diário da República, 2.ª série, e concorria. Contudo, não fui prestar provas a nenhum. Surgiu-me uma oportunidade que agarrei com unhas e dentes e cá estou. Porém, e apesar de estar bem continuo atenta a outras possibilidades e arrisco. Move-me uma certa vontade interior de regressar à minha terra, não obstante aqueles com quem me cruzo me avisarem cada vez mais "está quieta! quem cá está quer-se ir embora! isto é uma merda!".
Enfim.
Numa destas tentativas de escapar à diáspora concorri para preenchimento de um lugar no gabinete de comunicação da Câmara Municipal de Almodôvar.
No primeiro dia em que prestei provas esperei pela minha vez como todos os colegas e encontrei uma particularmente simpática que curiosamente cumprimentava todos os funcionários da autarquia com olás rasgados de bom-dia. A prova estava marcada para as 11 horas, mas como os serviços funcionam bem fi-la às 4 da tarde. Três dias inteiros de trabalho perdidos: o anterior (pois não há transportes de Faro para Almodôvar), o da prova e o seguinte, pois tive que pernoitar também em Beja para só depois regressar ao Sul.
A concorrente estava muito nervosa. Dizia-se muito nervosa e, de cada vez que o júri abria a porta para mandar entrar o próximo, lá rasgava outro olá.
Todos a acharam fácil. Era sobre legislação autárquica e de comunicação social. E com consulta. Pessoalmente sai de lá com a sensação que me tinha corrido muito bem. Acertei em tudo.
Porém, desconfiada com o comportamento daquela concorrente liguei a um conhecido e perguntei-lhe frontalmente "Sabes se na Câmara precisam mesmo de álguém para o gabinete ou aquilo já está feito?", ao que o meu interlocutor respondeu "Não sei, mas tem estado lá uma estagiária", ao que retorqui "Chama-se Patrícia?", "Sim", acrescentou.
Dissipei as dúvidas quando vi as notas e reparei que a dita cuja tivera a nota mais alta de todas! Numa prova onde não há margem para erros!
Feita teimosa fui à segunda fase! Eu e os outros!
Outros 3 dias de trabalho perdidos!
Um dia inteiro a saltar de sala em sala. Pela manhã testes de atenção e concentração, de flexibilidade cognitiva, de rapidez perceptiva, de não sei o quê verbal e abstracto e - PASME-SE! - um teste de personalidade.
A psicóloga achou estranho eu, no final, querer anotar o nome dos testes num papel. E também talvez o facto de eu ter respondido, quando ela me ia dar um lápis para fazer os testes, "quero caneta, isto ou fica ou não fica".
Bom, após os testes, tivemos uma entrevista de grupo e a seguir uma entrevista individual. "Você é a pessoa mais difícil que tenho aqui", disse-me a psicóloga. "A pessoa que me vai dar mais trabalho", acrescentou. E eu sem saber se ela dizia aquilo a todos ou se era mesmo verdade e dirigido a mim. "Você tem uma personalidade forte". E depois em ar de desabafo "Isto é uma pena, tenho que ficar com os processos das pessoas durante 180 dias, se isto acabasse logo, mas não". Acrescentando "há realmente aqui pessoas com perfil". E no final "pronto, ao menos, ficou a saber como é que estas coisas funcionam".
Tire cada qual suas ilações. Eu já tirei as minhas.
Fiquei apta, mas a Patrícia ficou em primeiro lugar.
Até porque é preciso ter em conta uma variável importante: este concurso não tinha em conta um item importante a AVALIAÇÃO CURRICULAR, pois só assim é que uma estagiária podia passar à frente de todos os elementos.
Agora além de dúvidas do foro ético, subsistem-me outras....
Até que ponto é permitido fazer testes de personalidade para a a entrada na função pública?
O que é realmente avaliado?
A que é que se dá primazia? A uma personalidade reservada, mas organizada ou, por exemplo, a alguém falador e desinibido, mas pouco organizado?
Quem define o que se valoriza? Se o obsessivo se o compulsivo?
Isto é constitucional?
Embrenhada nestas dúvidas liguei para a Câmara Municipal de Almodôvar e pedi para falar com o departamento de recursos humanos. Queria saber se tinha que marcar hora para consultar os processos ou se, pelo contrário, podia aparecer no normal horário de expediente. E disse assim "por favor, quero consultar o processo tal e tal" ao que a minha interlocutora doutora respondeu "ah! isso tem que ser com o presidente do júri", ao que eu respondi "então, por favor, passe-me a chamada", ao que ela respondeu "sou eu própria!".
É impressão minha ou parece que ficou nervosa e foi apanhada?

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