quinta-feira, 11 de novembro de 2010

ordenados mínimos!

os meus vizinhos do lado esquerdo da porta e do lado direito do prédio não têm nome. ela não se chama nome de filha, ele não se chama nome de filho e a outra ela mais velha não tem nome de mãe. são três se excluirmos o cão, deutsch.
a velha tem lugar de estacionamento reservado à porta para um clio azul, por baixo a cadeira de rodas pintada de amarelo, porém nenhuma deficiência que salte à vista. conheço-a pelos gritos estridentes que dirige aos filhos, pelo tom alto da voz e pelos sussurros com que presenteia o cão “meu querido, meu amor, chéri anda cá à dona”.
a filha sem nome é gorda. gordinha e anafada. sai de manhã muito cedo, ao meio-dia e meia encontro-a no café e quando regressa não sei.
o rapaz, homem da casa não tem nenhuma autoridade ainda que a frase precedente o fizesse supor. nem nome, quanto mais! de vez em quando também grita, mas não muito alto. a forma suprema que tem de se zangar é batendo com toda a força a porta da rua. para onde irá ele agora? penso.
nesta casa não há pai, só descendência. amargura. revolta. um certo enclausuramento. não sei quantas divisões têm, só que há uma marquise contígua à minha. e paredes meias também.
porque moram estes filhos ainda com a mãe? porquê se cada um deles tem bem à vontade trinta anos no cu?
há gente comodista é verdade! que prefere estar na casinha dos pais a ter de ser desenvencilhar sozinha. têm cama e roupa lavada. não gastam dinheiro em comida. em água, gás e electricidade e muitas vezes andam em carrinhos bem montados.
mas estes vizinhos não! estes vizinhos dão-se todos tão mal, tão mal, mas tão mal que chego a ter pena deles.
não ganham por certo muito mais que o ordenado mínimo, pois caso contrário já teriam deixado a mãe entregue ao cão. tenho a certeza!

3 comentários:

anademar disse...

em primeiro, quero saber se esse de: "chéri anda cá à dona" era comigo.
em segundo... bom texto. como é habitual.

João Espinho disse...

o teu endereço de mail?

(não precisas publicar este comentário)

João Espinho disse...

e publicou mesmo