segunda-feira, 22 de novembro de 2010

"coisas mesmo à ..."

na minha vida, para simplificar, habituei-me a dividir o mundo em duas categorias: a "das coisas mesmo à Beja" e a "das coisas mesmo à Lisboa".
uma está no extremo da outra.
também podia começar este texto todo de pernas para ar apelando ao sentimento e escrevendo assim "sou uma mulher sensível".
passo a explicar: quando eu vou a Beja há sempre uma amigo ou uma amiga para tomar café, mas esse mesmo não se fica por aí. garante-me que me vai buscar a casa e que me leva de novo. se eu precisar de passar na farmácia, é claro, é óbvio que me dá uma boleia. mas tão, tão óbvio que nem a questão se coloca. se o meu amigo ou conhecido tiver uma horta como o João Brandão, que por acaso até é de Faro, é natural que me ligue e me pergunte que ervas preciso. estamos no domínio "das coisas mesmo à Beja". se no mesmo dia que alguém tem a coragem de me dizer que "chateio com muitas mensagens", algo bem ao estilo "das coisas mesmo à Lisboa" é bom receber um mail do Pedro Soares a dizer "obrigada , Margarida. tens bom coração", e aqui, claro, estamos no domínio "das coisas mesmo à Beja". entendem?
no domínio "das coisas mesmo à Beja" as pessoas entreajudam-se, preocupam-se, questionam, apoiam-se, partilham problemas, até despesas e pequenas alegrias.
é que a vida é complicada e eu sou mesmo uma pessoa sensível. portanto, tudo o resto que me fuga dos parâmetros entra na categoria "das coisas mesmo à Lisboa". "vem ter comigo", dizem, mesmo que eu esteja a quilómetros de distância, não tenha carro e o outro sim. "ah! mas para te ir buscar tinha que fazer um desvio" ou "vou passar férias à tua casa" (e eu pensando que isso se deve ao facto de ter casa na praia, apesar de já não ver o interlocutor há 500 anos). "almoçamos todos" e a conta? quem paga? estamos - é bom de ver - no domínio "das coisas mesmo à Lisboa".
a tendência está a disseminar-se e os tiques da capital estão a dar conta dos mais pacóvios e aldeões, gente desatenta e desamigada. (abertas as excepções aos amigos da capital, claro!).
certo, certo é que há "coisas mesmo à Lisboa" em todos os cantos da vida. e eu não me habituo a isso. é que não me habituo a isso. mesmo! de todo em todo!
é que sou uma pessoa sensível.
sabem?

1 comentário:

jr disse...

A Capital dá-lhes voltas à cabeça...