quarta-feira, 2 de junho de 2010

o meu pesseguinho

O meu pesseguinho e a mãe vieram visitar-me. Tinha previsto para o jantar fazer chili, então preparei um refogado com as carnes picadas e tirei para o lado uma porção para dar ao pesseguinho. Depois ao preparado todo juntei o chili, os cominhos, o feijão encarnado e à parte fiz um arroz e disse ao menino "esta noite o jantar é arroz à Guidolhonesa". Ele riu-se e comeu bem.
Quando o pesseguinho vem à minha casa fica a ver desenhos animados no computador e ri-se muito muito com os disparates dos bonecos. Também os vê na televisão e também comemos excepcionalmente no sofá ou no chão.
O meu pesseguinho deixa um rasto, uma espécie de caos repleto de significados: papelinhos, fiozinhos, bonequinhos, desenhos tudo bem espalhadinho.
Ele dormiu cá em casa. Às vezes, ele e a mãe vêm dormir cá a casa. Montamos o acampamento: eles sobem para a minha cama eu fico num colchão no chão. Pediu-me um peluche. Fiquei aflita. Eu já não tenho peluches apesar de ter uma gaveta cheia de brinquedos. Fui lá pesquisar e encontrei o Princepezinho tamanho de um palmo. Dei-lho. Ainda refilou que queria um fofinho daqueles com pêlo, mas lá se conformou e dormiu tranquilo.
No dia seguinte fiquei de levá-lo à escola. A mãe sai mais cedo e ele assim pode dormir mais. Fiz-lhe um leitinho de biberon. Pediu-me com beicinho para ficar mais um bocadinho a dormitar. Ficou. A seguir, com muitos beijinhos, lá acordou. Chegou a altura de se vestir e o meu pesseguinho começou a chorar. Eu não estava a perceber. Não queria vestir a t-shirt. Não queria. Não queria. Perguntei-lhe porquê e ele só chorava. Queria a blusa do dia anterior. A verde. Expliquei-lhe que a mãe a tinha levado para lavar, que estava suja (mentindo só para ver se ele se convencia). Não funcionou. Mostrei-lhe as minhas t-shirt's todas. Não dava, não serviam. E eis que ele me diz em soluços "Tia não quero essa blusa porque os meninos gozam comigo na escola". Levei um murro no estômago! Não esperava aquilo. Fui imediatamente buscar a blusa do dia anterior e vesti-lha. Acabou-se o choro e as lágrimas. A outra blusa era, de facto, pouco convencional, mas...
O meu sobrinho tem quatro anos. E eu chamo a isto bullying.
Fomos contentes com a camisola cravada em nódoas e ainda por cima sem bata. Não gosto de fardas, batas, etecetera, mas percebo que é bom que elas existam. O que têm de mau têm de bom: uniformizam, anulam as diferenças.
Contei tudo à educadora. Ela tem um trabalho a fazer dentro da sua sala de aula. Urge.

Sem comentários: