Ele sabe que ela gosta que lhe tirem fotografias quando está despida. Nua. Os contornos dela são bonitos e ele sabê-lo bem. Porém, nunca lhe ocorreu fazer zoom out sobre o seu corpo e guardá-lo na memória para visitar a seguir. A memória dela custa-lhe. Apoquenta-o. Se acendesse um cigarro na sua boca e lho desse, ele saberia que ela sorria por tão delicado gesto. No entanto, nunca o fez por se distrair das coisas simples. A sensibilidade dela desconcentra-o. Ela gostava depois de tudo e ainda que por perto de dizer-lhe “até amanhã, amor” dando-lhe um beijo na face. Contudo, ele nunca lhe retribuiu esse beijo que a embalaria no sono mais profundo. A delicadeza dela aborrece-o. Não a entende. Ela gostaria de ter ido com ele escolher aquela blusa. Azul. E ele nunca foi com ela escolher coisa alguma. A extravagância dela irrita-o. Na praia ela costuma enrolar-se na areia e ficar tola como as crianças, mas ele nunca foi com ela à praia ver-lhe os cabelos molhados a escorrer pelas costas, as pegadas a deixar marcas, as conchas a empilharem-se na mala. Porque a infantilidade dela esgota-o. Ela gosta de dançar e gosta dos homens que dançam porque só os homens que dançam se entrosam com ela. Apesar disso ele jamais a levou ao baile, à discoteca ou pôs um cd lá em casa. As performances dela traem-no. Ela gostava de pendurar-se ao pescoço dele logo que ele saia do banho. De manhã. De beijar-lhe os olhos fechados e de pedir “preciso de palavras bonitas para o meu dia". Todavia ele afastava-a e ia vestir-se de silêncios. A afectividade dela sufocava-o.
Agora e como sempre ela não lhe diz do que gosta nem espera já que ele adivinhe, porque a frieza dele repele-a. O pragmatismo afasta-a. A aspereza mete-lhe medo.
Já não o procura. Já não o encontra. Já não o chama. No entanto, se o avista ainda que de longe tem vontade de dizer-lhe e diz-lhe “Continuas bonito. Gostei de te ver”.
E ele que até é tímido não baixa os olhos, não cora e nem lhe diz obrigado.
Porque a sinceridade dela cansa-o. Desgasta-o. Assusta-o. Fá-lo pensar que deve dar algo em troca. E agora, de facto, tanta frontalidade não serve para nada. É dispensável. E violenta demais.
Agora e como sempre ela não lhe diz do que gosta nem espera já que ele adivinhe, porque a frieza dele repele-a. O pragmatismo afasta-a. A aspereza mete-lhe medo.
Já não o procura. Já não o encontra. Já não o chama. No entanto, se o avista ainda que de longe tem vontade de dizer-lhe e diz-lhe “Continuas bonito. Gostei de te ver”.
E ele que até é tímido não baixa os olhos, não cora e nem lhe diz obrigado.
Porque a sinceridade dela cansa-o. Desgasta-o. Assusta-o. Fá-lo pensar que deve dar algo em troca. E agora, de facto, tanta frontalidade não serve para nada. É dispensável. E violenta demais.
E ela sabe também e ao mesmo tempo que não precisava de ser tão real. E pensa: eu sou ficção.
4 comentários:
Muito bonito! Mesmo. Gostei muito!Que bom descansar os olhos aqui depois de um dia que ainda promete ser longo de documentos chatos e... ai... agora já não interessa nada. Alimentaste-me o outro lado da vida. Fiquei mais quentinha. Obrigada
Obrigada, Chéri. Às vezs "foge-me a escrita prá verdade", outras para a ficção.
... e que bela ficção....
Bêjos
Anónimo - Não sei se é assim tão bela. Às vezes estamos mal-dispostos e vomitamos. Esta foi um vómito. Involuntário. Saiu-me. Desculpe.
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