sexta-feira, 25 de junho de 2010

quando a ficção dá lugar à novela um género ainda menor que a literatura de cordel

Todas as coisas estão delicadamente interlgadas amor.Olha para nós. Os dois. Eu e tu. Eu aqui. Tu ai. Na nossa vidinha. De casa para o trabalho. De manhã...o duche, a roupa que te mandei na mala. Dobrada. Passadinha a ferro por mim amor no domingo. As camisas a condizer com as calças, arrumadas em sacos plásticos com a etiqueta do dia da semana. As meias todas da mesma cor para não te baralhares porque tu és daltónico amor, o cinto e as boxers que comprei nos chineses naqueles dias à hora de almoço. Depois vais trabalhar. O teu trabalho é muito cansativo amor. Almoças na cantina. Que pena que tenho de não estar aí para fazer-te o almoço todos os dias amor. E ias almoçar a casa comigo amor. E era tão bom. Se calhar até tomávamos um cafézinho os dois como fazemos no sábado. Lês a Bola e vês aqueles homens todos quase despidos amor. Nunca percebi porque nunca lês a Bola ao pé de mim amorzinho. E regressas novamente ao escritório. Se eu tivesse computador tu escrevias-me não é amor? No teu escritório tens internet. Cá em casa não. E depois sozinho para jantar. Ainda bem que a senhoria é prestável amor e te faz a sopa todas as noites. Ainda um dia tenho que ir conhecer essa senhoria. É pena que nao tenha telefone para falarmos os dois depois da novela. Sei que não gostas que te ligue à noite não é? Eu não ligo amor. Eu deito-me cedo, tu sabes não sabes amor? Desejando que venha sábado para tu chegares e irmos ao mercado. Os dois amor. Para comeres as minhas comidas, irmos até casa de minha mãe e eu lhe arrumar e limpar tudo enquanto tu vês televisão no café do vizinho Manuel. Temos que jantar com a minha mãe pobrezinha que só a vemos ao sábado e qualquer dia ela morre e não janta nunca mais. Para dormirmos os dois juntinhos amor. Tu muito cansado e eu também. E acordarmos no domingo eu tratar da tua roupa e ver-te abalar para aí outra vez. Que vida a nossa amor. E eu que de casa para o trabalho vejo tanta gente. E as minhas colegas têm facebook. E emails. E jantam fora umas com as outras. Ainda não te disse amor que sou sindicalizada. Não devia porque dizem que as mulheres dos sindicatos são todas feias. Foi quase sem querer amor. O Eduardo filho da madrinha Heloísa é que me convenceu. Que era bom, que era bom por causa dos patrões. O Eduardo é muito nosso amigo amor. Até já me ajudou a carregar um dia a bilha de gás amor. E subiu só um bocadinho lá a casa. No outro dia à hora do almoço apareceu por acaso no sítio onde almoço sempre amor. Tu sabes amor. E telefonou-me para o escritório amor. Diz ele que eu tenho uns olhos bonitos amor. Vê lá tu. Queria perguntar-me se podia ir com ele escolher uma blusa amor. E eu fui. Quando cheguei a casa já noite escura estava estacionado à porta com um ramo de rosas. E garantiu-me que não lia jornais de homens, que gostava de passear e ver montras. E agora escrevo-te este e-mail porque aqui na casa dele temos computador e internet. É que todas as coisas estão delicadamente interligadas amor.

3 comentários:

Anónimo disse...

muito bom...mas faz mesmo..faz um destes por semana...IL

be(i)ja disse...

Obrigada. Não sei quem és, mas estou tentada a responder ao teu desafio.

be(i)ja disse...

t5r54'«
não resisto a publicar: este foi o comentário da minha Bia que acabou de passar com as patinhas por cima do teclado.