quarta-feira, 26 de maio de 2010

"A culpa desta merda é dos partidos, pá!"

Quem viu, viu! Quem não viu...vi-se!
A peça de teatro 37 do grupo Lendias d' Encantar.
Eu vi!

Não costumo comentar as peças que vejo. Quase semanalmente - diga-se! Não sou presunçosa ao ponto de o fazer, mas desta vez é diferente. É diferente porque foram lá abordados temas que a todos os bejenses, a todos os jovens e a todos os criadores deveriam dar que pensar.

Gostei dos textos escolhidos: o primeiro de Luiz Pacheco o segundo de José Mário Branco, duas figuras incontornáveis da cultura portuguesa. Dois discursos de desalento, de cansaço, de revolta, de inconformismo. De esperança. E um terceiro de António Revez, o actor, o encenador. Curto, grosso, directo, assertivo, perspicaz e chamando a atenção para questões como:
- o dia-a-dia de um actor;
- as condições de trabalho de um actor/criador,
- a precariedade da vida de actor/criador;
- a leitura enviezada que fazem os seus pares da vida de um actor/criador;
- as questões ideológicas que estão subjacentes ao desempenho das diferentes profissões de âmbito cultural;
- as questões político-partidárias que estão subjacentes ao desempenho das diferentes profissões de âmbito cultural (parece a mesma coisa, mas não é!);
- a sua legitimidade;
- o problema de que padece a companhia a que pertence;
- a solução encontrada.
Entre, porventura, muitos outros aspectos que me escapam.


Em causa (e dito em palco), aliás o leit motiv desta peça: os 50 mil euros de subsídio que eram atribuídos às Lendias e que passaram, após este executivo tomar posse, a ser apenas 27 mil e quinhentos euros, sendo igual soma atribuída à outra companhia de teatro profissional do concelho que já recebe do Ministério da Cultura 100 mil euros.

Ora bem! A questão que fica é, quanto a mim a seguinte: a que se deve esta redução? Querer nivelar ambas as companhias pela mesma bitola? Ser justo? Não entrar em guerras beneficiando uns em detrimento dos outros?
Nenhuma delas!

Puro desconhecimento - digo eu! E porquê? Porque falta no processo um elemento fundamental: a AVALIAÇÃO. Não se podem nem se devem atribuir dinheiros públicos nem às instituições de teatro, de cinema, de música, de dança ou quaisquer outras sem que exista avaliação. CRITÉRIOS.

Ser do partido A ou ser do partido B não é um critério válido, embora haja quem alegue que isso deveria bastar ou possa ter bastado em tempos idos. Assim, é urgente definir outros. Fazer um inquérito às associações do concelho, averiguar que materiais de som, vídeo, luz têm. Que condições para ensaios têm. Que número de pessoas empregam. Quantos espectáculos criam por ano (estreias, atenção!), quantas itinerâncias fazem, quantas acções de formação, que públicos visam atingir e que públicos atingem, etecetera, etecetera, etecetera.


E, então, a partir daí e da aferição da qualidade dos trabalhos, então, dizia, atribuir um subsídio mediante a realização de um protocolo, um contrato programa onde ficassem definidas as obrigações de ambas as partes. Não se percebe, por exemplo, porque razão uma autarquia subsisdia uma companhia de teatro e não inclui nos seus serviços de comunicação a realização de notas de imprensa sobre os espectáculos, a concepção, impressão e distribuição de cartazes entre outros meios de divulgação ao seu dispor. Isto e muito mais, como por exemplo, a articulação com os diferentes sectores educativo e cultural da autarquia, deveria constar do referido contrato programa.


Bom, mas a questão que se coloca a seguir e que é pertinente é a seguinte: quem faz a avaliação?
Pois é! A avaliação por muitos indicadores que queiramos dar-lhe corre sempre o risco de ser subjectiva. Bom, então, por isso mesmo deveria ser feita por entidades idóneas.


Sugiro para o Pax-Julia Teatro Municipal, para a Biblioteca Municipal, para o Museu Regional e para outras tantas entidades que prestam serviços públicos que se criem no seio destas instituições aquilo que eu própria crio na minha vida: um CONSELHO CONSULTIVO.


Se queremos ser democratas e transparentes criemos conselhos consultivos constituídos por pessoas idóneas representativas das diferentes áreas da siciedade civil, dos diferentes partidos, das diferentes religiões e interessas e já agora de diferentes idades e géneros.


Assim, as decisões não serão autocráticas, têm que ser justificadas, a programação não é casuística, não corre riscos de ser enviezada, pode ser mais plural, mais justa, bem como os ditos subsídios a que nos referimos.


O povo costuma dizer que "quem não deve não teme", pois então! Do que estão à espera?


Não nos "obriguem a vir para a rua gritar" e dar razão ao Zé Mário Branco que diz que "a culpa desta merda é dos partidos".



Nota de Rodapé: discordo em absoluto com partes das opiniões veiculadas acerca deste tema em Viagra e Prozac e em Ponto sem Nó, blogues bejenses.

6 comentários:

H disse...

Beija - Os blogues não têm opiniões; no caso foi a Maria Manuel e o Hugo que opinaram!
TrÊs ou quatro notas de raciocínio:
- defendes que a CMB dê 100 Euros para o Teatro Profissional em Beja?
- sabes se as razões pelas quais o Arte Publica perdeu o apoio do Municipio são estéticas ou regulamentares, em vez de perseguição ideológica?
- Estás convicta que os Lendias sempre cumpriram integralmente as obrigações assumidas com a CMB?
- Sabes a razão da greve (silenciosa!) que foi feita no passado, por esta companhia?

be(i)ja disse...

Olá Hugo!
Os blogues expressam opiniões. A quem elas pertencem pouco me importa.
Quanto às notas de raciocínio:
1)Desconheço as razões pelas quais o grupo de teatro Arte Pública perdeu o apoio do Município;
2)Desconheço se o grupo de teatro Lêndias d' Encantar cumpriu ou não as obrigações assumidas;
3)Desconheço a greve a que te referes.
E - para o caso concreto em questão - não me importa nada vir a conhecer questões do passado.
O que proponho é a MORALIZAÇÃO da atribuição de subsídios e o que defendo é a CULTURA.
Neste como no anterior executivo.
Obrigada.

be(i)ja disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
be(i)ja disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
H disse...

Para o PJ foi defendido um Conselho Consultivo!

be(i)ja disse...

O que é o PJ?