Enclausurada sem saber porquê,
Mariana ficou no convento em Beja.
A meninice passou-a rezar,
a crer num Deus que não a soube estimar.
Menina da burguesia,
dizia que não, que não, que não queria,
aquela hipocrisia!
Enclausurada sem saber porquê,
Catarina ficou na aldeia de Baleizão.
A meninice passou-a a querer-se superar.
Criança camponesa,
dizia que não, que não que não queria,
mais fome à sua mesa!
Jovem idílica e encantada,
por janelas contemplava o horizonte,
donde surgiu um dia um cavaleiro francês.
Jovem sonhadora e cansada,
pelos campos, pela fontes, pela seca e pela verdura,
passeava firme e segura com Carmona na planura.
A vida traiu as duas.
Por devoção!
Por revolução!
Uma amou perdidamente e até à loucura,
um homem hostil à sua doçura.
A outra quis defender a dignidade, sua dos seus e do povo,
e nisto foi mais universal.
Se uma verteu para o papel o sofrimento,
que era amável instrumento da burguesia,
saber escrever o que na alma que ia.
A outra deu um passo derradeiro,
na lama do chão, da terra, do fascista, do vil Carrajola,
que lhe lançou o tiro certeiro.
Viveram para a luta dos trabalhadores,
para a luta dos amores,
e morreram sem que ainda se preveja:
qual delas foi mais mulher?
se a que avança,
se a que deseja.
Comemoração dos 100 anos do Dia Internacional da Mulher.
2 comentários:
LINDO!!!TENHO ORGULHO DE TI POR ISTO E POR TUDO MAIS...P.
Lindo...minha amiga...e lido da maneiro como foi lido, até arrepiou!
Bêjos borracho
:-)
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