terça-feira, 10 de novembro de 2009

Ele que confirme para sempre no céu ou lá onde está, os laços com que me uniu a ti na escola, na infância, na juventude e na vida

Hoje ligou-me. Há anos que não falávamos e hoje ligou-me. [Temos que prestar bem atenção à palavra: ligou. Ligou-me a si própria. Ligou-me a ela. Reparem que já não se diz telefonou-me, mas sim ligou-me. Ou telefona-me, mas sim liga-me. Liga-me a ti. ]
Bem...continuando. Ouvi o telefone, olhei, vi um 92 qualquer coisa e atendi. Conheci-lhe logo a voz apesar da pronúncia espanhola. Estivemos um bom tempo à conversa. Fiquei a saber que agora está por cá. Por Beja. Novamente na casa da mãe. Deixou tudo para trás e regressou para dar assitência a uma tia que está internada num lar. A tia Té. Desde 2006 que não me ligava a ela. Um dia houve em que tentei vistá-la numas férias, mas desencontrámo-nos. "Senhor tem piedade de nós, somos o teu povo pecador, toma a nossa vida de pecado e dor, enche o nosso esprito de amor". Andámos juntas no ciclo, depois na secundária. Só no décimo ano é que escolhemos áreas diferentes e fomos para escolas diferentes. "Estou convencido que nem a morte nem a vida nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus". E depois na faculdade fomos para Lisboa, mas Lisboa começou a ser grande demais para nós e desencontrámo-nos outra vez. Porém, lá nos íamos vendo nas férias. Ela tem o meu diário. Eu tenho a Bíblia dela. Éramos as melhores amigas do Mundo. Embora ela fizesse coisas que eu não, como aliás, ainda hoje. Ela ia à missa, e às procissões vestida de anjinho, e fazia retiros no seminário, e fez a catequese e a primeira comunhão e essas coisas todas. Depois de feito o curso (ela tirou economia com excelentes notas) optou. Optou. Optou e todos tiveram que render-se. A Leonor ou Leanora ou Nônô escolheu ser freira. Carmelita Missionária. "Irmã que pedes a Deus e à sua Igreja?"/ "Servir a Deus e aos próximos como Carmelita Missionária todos os dias da minha vida"/ "Irmã Leonor pelo baptismo morreste para o pecado e foste consgrada ao Senhor. Queres agora unir-te mais intimamente a Deus Pai, Filho e Espirito Santo, pela profissão perpétua na congregação?"/ "Sim, quero"/"Queres com a Graça de Deus abraçar para sempre a mesma vida de castidade pelo Reino, obediência e pobreza que Cristo e a sua Mãe para si escolheram?"/ "Sim, quero". Eu fui ao casamento dela. Ou aos votos perpétuos. Em 2006. E sim foi assim. Numa igreja muito decorada e com cânticos e tudo. E depois uma festa. Um "copo de água" a valer. Sei que nesse dia ela se sentiu uma noiva. E sei que desde então não mais tínhamos falado. Até hoje. E na expectativa de marcarmos um encontro, perguntei-lhe: "E agora estás cá até quando?"Ao que ela respondeu "Até que a minha tia viva". Qualquer um de nós provavelmente diria: até que a minha tia morra. "O Senhor Deus que inspira e leva a bom termo os santos propósitos te acompanhe sempre com a sua Graça para viveres fielmente a tua consagração". E para teres tempo de estar comigo.

2 comentários:

H disse...

Lembras-te de uma prenda de Natal com nomes trocados?!

be(i)ja disse...

H - É claro que me lembro! Que vergonha!!!!