sábado, 4 de setembro de 2010

a costureirinha e as lembranças

Como estava na margem Sul não pude deixar de me lembrar de uma série de pessoas de Beja que - tinha a certeza - andavam pelo Seixal na Festa do Avante. Lembrei-me do Paulo Ribeiro que iria actuar no palco 25 de Abril e hesitei em ir lá ter. O meu dilema era: como saio de lá? A Ritinha ainda me enviou uma mensagem "Guida, estás no Avante? Estou em Grândola vou aí ter".

Porém, já decidira atravessar o Tejo. Comi uma sandes de ovo que é coisa que só encontro em Lisboa. Isso, pataniscas e alheiras. Tudo coisinhas que fazem bem, mas a que não resisto!

De seguida, fui deleitar-me com as retrosarias. O meu pai armado em GPS ligado à internet e ao telefone e a dizer-me "Há umas na Praça da Figueira, outras na Rua dos não sei quê (não me lembro!), e centenas na Rua da Conceição". Pois foi nesse sentido que me desloquei. Encontrei, de facto, adornos de rara beleza: fitas, bordões, galões, rendas, botões. Tudo lindo!

As lojas, edifícios também "mui" belos: antigas [Aí se eu pudesse era antiga! (suspiro)]. Antigas mas bem conservadas, com paredes inteiras de gavetinhas distribuídas por cores, paredes inteiras de caixinhas de botões, montras bem desenhadas, lettrrings de outros tempos.

O Pedro era o moço ideal para fotografar isto, logo ele que "gosta de jogar com a luz, a profundidade de campo", que tem um olhar tão sensível. E nisto passo pela Embaixada Lomográfica de Lisboa. Também não me contenho e envio-lhe uma mensagem "lembrei-me de nós pseudo-fotografos, blá, blá, blá". Um sms que deu azo a umas "trocas e baldrocas" engraçadas.

Na busca da matéria-prima fui à Rua do Ouro, à chamada Feira dos Tecidos comprar trapos a retalho e descansei no Chiado ainda sem saber para onde ir.

É impressionante a quantidade de gente de quem me lembro no decorrer de um dia: ou por uma imagem, ou por um som, ou por um cheiro, ou por uma rua, ou por uma súbita saudade. Naquele instante lembrei-me da minha tia.

Eu tenho muitas tias. Irmãs da minha mãe e uma irmã do meu pai, mas aquela é a minha Tia. Telefonei-lhe e disse-lhe "lembrei-me de ti. estou aqui em Lisboa".

Quarenta e cinco minutos depois estávamos juntas e depois de muitas peripécias que ainda tivemos tempo de fazer, contei-lhe do projecto de construção das malas e eis senão quando me oferece antecipadamente uma surpreendente prenda de aniversário: uma máquina de costura.

Agora resta-me acrescentar - porque dizem que isto está tudo ligado - que em Baleizão existia a crença profunda de que quando dois amantes se queriam encontrar se espalhava que o lobisomem andava por lá o mesmo sucedendo com uma costureirinha que se ouvia no barranco que separa a aldeia nova da aldeia velha. Nessa noite era certo e sabido que toda a gente se trancava em casa e não se via vivalma.

Portanto....se escutarem o meu matraquear....

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