quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

zapping

folga. despertador. oito da manhã. andar contra o vento. bilheteira. carruagens. lugar à janela. paragens. uma. duas. três. tantas. a mensagem dele tão cedo: dá um salto a um cinema e vai ver o nas nuvens. não é um filme tanga, por muito que te possa parecer. acho que vai fazer-te bem à alma e ao espirito. "fica bem". fim de linha. bilheteira. carruagens. suburbano. lugar entre as gentes e os sacos. paragens. uma, duas, três, meia dúzia. fim de linha. andar outra vez mas agora a favor do vento. subir a ladeira. passar naquela rua onde cheira sempre a caril. campainha. introdução. meio. conclusão. zás num ápice. meia hora. se tanto. as mãos entrelaçadas. o discurso suspenso. uns assuntos na boca e outros na cabeça. tão rápido. um relógio invisivel qual bomba prestes a explodir. e eu a pedir licença. posso só dizer mais uma coisa? e ele que sim. claro. à vontade. e a rematar com um são também as circunstâncias da vida. pode parecer que não, mas tudo mudou. sim. penso. de lá para cá. em dez anos. tudo mudou. saio. frustrada. tinha tanto para lhe contar. coisas e coisas e coisas que ando apontando num bloco para não me esquecer. há mais de um mês. vim de tão longe. gastei tanto dinheiro. invisto tanto nesta merda e zás. tenho que comer penso. sê misericordiosa contigo querida. olha as horas que são. e ainda nem sequer comeste. uma alfacinha. um copo de leite. o que me sabe bem quando estou fora de casa é ou um copo de leite ou uma sopa. sempre. a alfacinha na mão e na boca. as lágrimas nos olhos a escorrerem cara abaixo. presa à cadeira. quem me diz que eu vou daqui agora outra vez de volta para baixo? respiro fundo. fumo cigarros. meto-me ao caminho desta feita com o vento a desfavor. bilheteira. sala de espera de vidro. aquário. pessoas. muitas pessoas. com sacos. de plástico. de papel. um apito. descer a rampa. um lugar à janela. as águas mornas. não porque lhes tenha deitado a mão, mas porque não tremem nem muito nem pouco. a minha mensagem: vai fazer-me bem ou vou gostar? ambas. responde. por acaso estou de folga hoje e amanhã e até estou em lisboa. mas não, não vou. tenho outros planos. escrevo. apito. gente que se atropela e dissemina pela esquerda e pela direita. bilheteira. escadas rolantes. do terreiro do paço a sete rios. linha azul. a mensagem dele: queres vir partilhar um cozido à portuguesa no bairro? escadas rolantes. bilheteira. linha 14. viatura 97. destino faro. lugar à janela. obrigada. não posso. tenho outros planos. e cheia de medo: ainda não leste o meu e-mail, pois não? já li, já. tu é que não leste o meu. a periferia. as filas de carros. a ponte vasco da gama acentuadamente inclnada para a direita. primeiro mais baixa, depois a subir e a distanciar-se do rio. encosto-me. deixo-me ir. afinal, estou de folga. não tenho pressa. quando chegar, cheguei. albufeira. o telefone. triiiiiimm. jantas comigo, com o tina e com o marco. vou-te buscar. acedo imediatamente. tenho fome. estou cansada. uma visita guiada. dois cães. o zappa e o spot. com duas chapas. com os nomes. também quero ter um cão, penso, mas não digo nada. lombo recheado com queijo, batatas fritas, salada de rúcula. vinho de estremoz chamado ponto com assim: .com. um descafeinado. uma cama. o portátil. a pen. internet. o gmail. e: se é assim que queres não volto a propor-te empréstimos (a 12, 24 ou 36 meses) para ter o prazer de viajares comigo e de te ver a viajar por sítios mágicos. não se fala nunca mais nisso. nem do sri lanka, nem da tailândia, nem do camboja, nem de marrocos. e recordo as palavras da manhã. as circunstâncias mudaram. pode parecer que não, mas muita coisa mudou desde há dez anos para cá. e concluo: é verdade. é mentira. é verdade. é mentira, pois ele tem estado presente sempre na minha vida desde então. qual? qual deles? os três, claro!