terça-feira, 15 de dezembro de 2009

mãe

nem tudo o que já passou pertence à memória. há uma parte de nós que quer futurar-se e que o passado confunde por estar tão presente. para me projectar agora que estou vulnerável, frágil e inquieta tinha que, com esta idade, depois de me tricotares inteira, dar-te a pontinha de mim para ires desfazendo volta à volta e enrolando no novelo que crescia. desfazias-me primeiro a cabeça que está cheia de emoções. e puxavas o novelo, a pontinha com força, para trás, para trás, para trás e depois olhavas para as mãos e tinhas um rolo grande tamanho da tua barriga e engolias-me de novo para eu voltar para o teu ventre e desaparecer para que ficasse mesmo sem memória e para que houvesse uma parte de mim a querer futurar-se e o passado não me confundisse por estar tão presente.

5 comentários:

Camolas disse...

Deixa-te de andar para trás, moça. Escrevendo como escreves joga-te mas é para a frente. "Para a frente é que é Lisboa".

be(i)ja disse...

Oh Camolas não quero andar para trás. Quero só renascer. É pedir muito destricotarem-me? Ando em convulsão de altos e baixos com uma energia criativa revigorante e quase destruidora. Algo importante está prestes a acontecer...como um renascimento.

Nucha disse...

A experiência mostrou-me que não se pode explicar os seres a partir de seus vícios, mas sim partindo daquilo que conservam intacto, de puro, daquilo que lhe resta da infância, por mais profundamente que seja necessário buscar.

Georges Bernanos

Beijoooo grande

Anónimo disse...

Amiga sei que os dias cinzentos te deixam assim...com vontade de "destricotar-te"...mas já reparaste que até os dias cinzentos tem a sua beleza?!
Vá amiga anima-te e pensa nas coisas boas da vida..sei que nem sempre é fácil..mas também sei que tu és uma grande mulher por isso vamos mas é tricotar em vez de destricotar, pode ser?

Um abraçinho muito apertadinho do tamnho da imensidão do nosso alentejo...
Bêjos

EU disse...

...não era para ser anónimo!!!mas sim EU