Sabem quando criamos uma imagem de uma pessoa baseada às vezes só na sua aparência? Ou naquilo que escreve? Ou naquilo que escrevem sobre ela? E criamos expectativas de que seja assim ou assado?
Criei de um homem uma imagem bonita depois de ler-lhe apenas dois pequenos livros: "Azul-Turquesa" e "Para avaliar do seu grau de pureza". Uma imagem que me persegue há já muitos anos. Estaríamos provavelmente em 1998. Na altura estava a terminar o curso e ele a ingressar na minha faculdade na qualidade de professor. Professor de escrita criativa. Ele tinha a minha idade e eu olhava para ele como para qualquer outro rapaz da minha idade na esperança de que ele pudesse ver-me. Anos mais tarde vim encontrá-lo na biblioteca de Beja, para a qual fora várias vezes convidado a falar sobre os seus livros e textos adaptados para cinema e para teatro. Agora, novamente passados outros tantos anos (bastantes) fixei novamente os olhos nele. Não me viu, claro. Mas, eu escutei atentamente as suas músicas e pensei: é desta!
Assim, depois do concerto, meio a medo, envergonhada, saquei dos livrinhos que levara na mala e estiquei-lhos para que os assinasse. E o autor escreveu "para a M. as minhas primeiras vozes "cantadas" por escrito" e em "Azul-Turquesa", "para a M. este livrinho azul-turquesa entre o cinema e o quê?".
Pronto! Fiquei contente! Mas já não lhe procurarei os olhos. A imagem corresponde, não se desvaneceu, mas o homem é apenas e só mais um homem! E eu já não sou mais aquela menina encantada com palavras doces.
Aliás, "Para avaliar do seu grau de pureza" já tinha a dedicatória de um amigo que mo oferecera e que reza assim: "Para avaliar o teu grau de pureza não seriam necessárias grandes reflexões. Mas, pureza faz-me lembrar puré. Portanto, a pureza de cada um deve-se medir pela quantidade de batatas disponíveis em stock. Eu sou mais batata frita. Tu deves ser mais batata cozida, que é a mais pura quanto ao sabor. Pureza? Não sei o que é...Sabes?" J.
Com amigos assim quem é que quer saber de imagens e de seres etéreos?
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